São Carlos como berço da Engenharia de Materiais no Brasil

        Designada como a capital brasileira da tecnologia, São Carlos é a cidade ideal para jovens que almejam se tornar engenheiros. A hospitaleira cidade abriga duas grandes universidades públicas (UFSCar e USP), um Instituto Federal (IFSP) e uma universidade particular (UNICEP).  Conta também com centros de formação profissional, como SENAI, SESI, SESC e SENAC. Essa diversidade de formações de excelência atrai centros de pesquisa (Embrapa Instrumentação e Pecuária Sudeste) e mais de 200 empresas de tecnologia, tais como Faber-Castell, Volkswagen, Tecumseh, Electrolux, entre outras. Vale ressaltar que a cidade ostenta a maior média de doutores por habitante do país, 10 vezes maior que a média nacional; hoje são mais de 2.530 doutores em uma cidade com aproximadamente 250 mil habitantes. Somente o Parque Tecnológico (ParqTec) da cidade abriga 24 empresas com mais de 200 doutores.

        Há algumas décadas, São Carlos abrigou a origem dos primeiros cursos ligados à Engenharia de Materiais no Brasil. Em 1953, a USP criou a cadeira de Metalurgia I e II para os cursos de graduação em Engenharia Civil e Mecânica, os quais foram os primeiros cursos superiores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC). Já em 1972, foi criado o Departamento de Engenharia de Materiais (DEMa), o primeiro departamento de Engenharia da Universidade Federal de São Carlos, bem como o pioneiro em Engenharia de Materiais no Brasil, com uma proposta inovadora para a área de materiais na América Latina. Já neste século, em 4 de novembro de 2008, o Conselho Universitário da Universidade de São Paulo aprovou a criação do curso de graduação em Engenharia de Materiais e Manufatura, sob responsabilidade do Departamento de Engenharia de Materiais e com colaboração de professores pertencentes aos Grupos de Fabricação e Manufatura dos Departamentos de Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção da EESC. Nesse cenário, na pós-graduação, são 449 alunos no total em São Carlos, 218 na USP e 213 na UFSCar. 

Linha do tempo

        Apesar de o primeiro curso de graduação em engenharia de materiais ter surgido no Brasil em 1970, o segundo surgiu somente nove anos depois, na Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba. A partir de então, essas duas universidades se mantiveram como únicas responsáveis pela formação desse tipo de profissional, bem como da promoção da profissão dentro da indústria brasileira, até 1990. A partir de então, mais escolas de engenharia no Brasil compreenderam a necessidade de se oferecer esse tipo de formação, e, em 1999, já havia 10 cursos de engenharia de materiais em atividade.

        Nos anos 2000, devido a diversos tipos de incentivos governamentais para expansão da formação superior no Brasil como um todo, as engenharias, e,  por consequência, a de materiais, passaram por uma explosão de ofertas: o total de cursos mais que triplicou entre 2000 e 2009! A partir de 2010, a expansão das ofertas de cursos continuou crescendo, mas começou a apresentar os primeiros sinais de estabilização: em 2013, quando havia um total de 47 cursos em atividade, um deles foi extinto. Desde 2014, porém, quando foi ultrapassada a marca de 50 cursos no Brasil, a situação se equilibrou, e há três anos consecutivos, continuamos na marca de 54 cursos, segundo dados da plataforma e-MEC.

Dados MEC

        Em um relatório elaborado pela Associação dos Ex-Alunos de Engenharia de Materiais da UFSCar (DEMaEx), considerando todos os formados pelo curso até o ano de 2015, foi possível identificar a situação profissional atual de 75% dos egressos, dos quais foi possível identificar que a maioria (~66%) atua em empresas, enquanto parcelas significativas se tornaram docentes (~13%), estão cursando programas de pós-graduação (~7%) ou se tornaram empresários (~4%).

        Após dados e fatos, o que podemos esperar para o futuro? O conhecimento da ciência dos materiais, sem dúvidas, é um diferencial de nossa profissão frente a outras engenharias e devemos explorá-lo. Podemos nos lembrar que tudo que tocamos é feito de algum material. A etimologia de Material,Materialis”, vem de Matéria (não, não é o Jornal, gente), a qual, segundo o dicionário Aurélio, representa tudo o que é tangível. Há um bom tempo todos os produtos que usamos no dia a dia não existiam na forma em que os conhecemos e alguém, engenheiro de materiais ou não, teve que tomar a decisão de que forma tais materiais seriam utilizados, como seriam processados e de que maneira seriam integrados. Nossos desafios, hoje, incluem questionar o uso desses materiais, melhorar suas propriedades e produzi-los com menor custo, impacto ambiental e maior eficiência energética e qualidade. Novas ferramentas se colocam à disposição para nos auxiliar nessas tarefas. Recursos computacionais para simulações e tratamento de grande volume de informação poupam tempo, dinheiro e são cada vez mais confiáveis para nos guiar na tomada de decisões. Entretanto, todo esse auxílio é ineficaz sem o conhecimento básico para o seu contínuo desenvolvimento e para a análise crítica de seus resultados. Por outro lado, estamos muito longe de ter explorado todas as opções de composições químicas, condições de processamento e de compreender micro e macroestruturas e suas alternativas de aplicações. Dessa maneira, os desafios em pesquisa também se apresentam como oportunidades de carreira industrial e acadêmica, e abertas ao empreendedorismo de inovação. A Engenharia de Materiais está presente desde a atividade mais básica de laboratório, passando pela produção e suprimentos, até a comercialização e logística de qualquer produto. Cabe a nós fazer a diferença em cada um desses setores!

[Texto retirado da 15ª Edição do Jornal A Matéria, disponível em: bit.ly/EdicoesAMateria]