Parceria jornal A Matéria e DEMaEx - Resgatando nossa história

DEMaEx - Resgatando a nossa história

PIEEG - Programa Integração Escola-Empresa-Governo: Sua história e legado

        Em nossa parceria com a DEMaEx, temos como objetivo resgatar a história do DEMa e apresentar os programas, iniciativas, laboratórios e, principalmente, as pessoas que contribuíram para a construção do departamento ao longo desses 50 anos. Cada texto trará depoimentos, fotos e assuntos que se relacionam com a vasta história do melhor curso da América Latina.

        O assunto do texto de hoje é o PIEEG* - Programa Integração Escola-Empresa-Governo, atual Programa de Estágio Curricular Supervisionado - que, desde 1973, proporciona estágios em empresas e laboratórios para os/as alunos/as da graduação.
Primeiramente, gostaríamos de dedicar este texto ao professor Vanderlei Sverzut - um dos principais organizadores do PIEEG, falecido em agosto deste ano, além de agradecê-lo por todo seu serviço prestado à comunidade do DEMa. Como foi falado no texto “A História Primitiva: Engenharia de Materiais na UFSCar”, publicada na 17ª edição do Jornal A Matéria, o funcionamento do estágio é de grande importância para a formação dos/das alunos/as da UFSCar. Aqui, tem-se um professor orientador e um supervisor da empresa (funcionário) para ancorar o/a aluno/a em ambos os alicerces e facilitar a comunicação e o desenvolvimento do trabalho no estágio. O/A estudante recebe visitas do professor orientador e elabora relatórios avaliados por ambos os supervisores. Ao final do programa, o/a estagiário/a deve apresentar suas experiências de forma aberta, a qual também é avaliada pela coordenação de estágios. E tudo isso foi e é um intercâmbio muito importante para a empresa, universidade, professores e, claro, aluno/a, que tem a oportunidade de se dedicar unicamente ao estágio durante seis meses, vivenciando e aprendendo tudo o que a vida fora da universidade pode ensinar.

        Para nos ajudar a falar sobre a história deste programa - que é um dos principais responsáveis pela prestigiosa reputação do DEMa no âmbito empresarial - entrevistamos o Professor Tomaz Ishikawa, um dos coordenadores do PIEEG (cargo o qual tem muito orgulho de exercer: “A gente veste a camisa, mesmo consumindo muito tempo e tendo as disciplinas, é muito gratificante”). Outra pessoa que sempre vem à cabeça quando o assunto é estágio é a Maria Cristina Romano, ou Cristina, e vocês podem acessar uma entrevista com ela publicada na 18ª edição do jornal - disponível aqui.

        O primeiro tópico de nossa entrevista é a origem do PIEEG, em que o professor Tomaz fez questão de destacar o pioneirismo do programa: “O PIEEG foi implantado com o começo do curso (ou seja, todos os engenheiros formados pelo DEMa fizeram esse estágio). Nós contribuímos para a atual formulação do estágio, ou seja, a lei 11.788, de 25/09/2008, é baseada no que nós fazemos desde 1970, com professor orientador e supervisor da empresa (terminologias nossas). A lei anterior era a 1.194, de 1977, que defendia que o contrato era válido se a empresa tivesse um convênio com a universidade específico para o curso (o que empacava muitos estágios). Também, fomos pioneiros no conceito de avaliação de estágio com uma monografia que aborda as atividades desenvolvidas na experiência profissional”.

        Outro ponto destacado pelo professor é a importância de manter o estágio como atividade única no semestre, não há flexibilização dessa regra porque, além de comprometer o tempo do aluno com o estágio, a possibilidade de estagiar em outra cidade é ofuscada pelas matérias que o estudante puxou em São Carlos - por exemplo, caso o aluno tivesse a possibilidade de se inscrever em disciplinas no semestre do estágio obrigatório, haveria o risco de que ele desistisse de oportunidades melhores em outras cidades para poder realizar as atividades no campus. Ishikawa afirma: “Atrasar meio ano para fazer estágio em uma boa empresa vale mais a pena do que tentar se formar o mais cedo possível” e Cristina complementa “(...) abre muitas possibilidades para o aluno e pode ser determinante para a escolha do caminho profissional que vai seguir depois de concluir a graduação”.

        Quando perguntamos sobre qual é a principal competência que o PIEEG desenvolve nos alunos, a resposta foi certeira: a responsabilidade - “O mercado de trabalho cobra a responsabilidade e a maturidade de uma forma bem mais ‘pesada’ do que as disciplinas da graduação. Então, o aluno só vai ter contato com essa cobrança no estágio. Isso faz com que você cresça muito. Ser aprovado na disciplina de estágio é provável que todos sejam. O mais importante é a impressão passada ao supervisor para que, mesmo o estagiário não sendo efetivado, seja criado um network para que as pessoas o conheçam. A preparação para isso vem desde o primeiro ano, com dedicação de corpo e alma”.

        Um outro ponto abordado foi o futuro: quais as perspectivas de trabalho para engenheiros nos próximos anos? Segundo o professor, a gama de campos de trabalho para esses profissionais tende a se expandir: “Sempre haverá oportunidades nas áreas tecnológicas. Porém, outros ramos vêm procurando engenheiros, como TI, setor financeiro, entre outros. Isso se dá, principalmente, devido ao pensamento do engenheiro - construído ao longo do curso, principalmente nas matérias de cálculo, física, estatística ele desenvolve um raciocínio que muitas empresas valorizam. Mercado para engenheiro com certeza terá”. Entretanto, ele aponta algumas preocupações acerca da qualidade do ensino remoto em alguns aspectos, em comparação com a rotina normal - “Tenho receio de quais serão os resultados desse longo período de ENPE, pela falta de contato pessoal. Entonação, olho no olho, saber falar em público, enfim, essas soft skills são de extrema importância, e o melhor jeito de desenvolvê-las é praticando, e não dá pra ter essa experiência digitando no chat”.

        Ainda há um ponto levantado por Ishikawa em relação às medidas tomadas pelas empresas para equiparar as desigualdades: “Hoje a gente vê estágios específicos para igualar a assimetria que temos no mercado de trabalho, como estágio de férias só para mulheres”. Outro fato muito discutido foi o processo de trainee da empresa Magazine Luiza destinado a pessoas negras**, e isso é e será uma forma comum até que todos tenham seus direitos de igualdade assegurados também na prática.

        Por fim, vale ressaltar que são inúmeros casos de sucesso em decorrência de um estágio bem desempenhado e da abertura de portas. Muito pelo formato como ele é desenvolvido (chegou a ser escolhido como o Melhor Programa de Estágio, em prêmio oferecido pelas empresas do estado do Paraná), mas especialmente pela qualidade dos/das estudantes que o DEMa é capaz de formar, tanto pela base técnica, quanto pela oportunidade de desenvolvimento pessoal, exemplificado por Ishikawa: “Houve pessoas que foram contratados como analista por conta de disciplinas que ainda tinha que cumprir, até ele poder ser contratado como engenheiro”. Mas em um mundo repleto de imprevisões e dúvidas, nada é fácil e garantido, mas “através da construção de um CV desde os primeiros anos as coisas ficam mais bem encaminhadas”, complementa.

Referências:
*https://materiaisufscar.wordpress.com/estagio/pieeg/
**https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54252093

Resgatando nossa história  - LCE

LCE - Laboratório de Caracterização Estrutural

        Fundado em 1972, o departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar carrega há muito tempo uma reputação de respeito. Ao conversarmos com docentes, técnicos e estudantes sobre as principais características responsáveis por esse prestígio, é evidente a pluralidade de respostas: capacitação dos docentes, parcerias com empresas, possibilidade de trocas de experiências, qualidade dos equipamentos, etc. De fato, todos esses elementos têm impacto positivo. Hoje, porém, a Linha do Tempo DEMaEx, em parceria com o Jornal A Matéria, irá abordar um assunto que faz parte de um escopo de grande importância para o reconhecimento do departamento: o Laboratório de Caracterização Estrutural, um dos principais elementos da infraestrutura disponível no DEMa. Com seus alicerces lançados no final da década de 1970, o LCE é ainda hoje uma das instalações mais importantes no Departamento. Para nos ajudar nessa jornada, contamos com a ajuda do professor Hans-Jürgen Kestenbach, que atuou no DEMa de 1979 a 2009 e cordialmente nos cedeu diversas informações. Também utilizamos o texto Histórias do DEMa com o prof. Walter Botta, presente na 14ª edição do Jornal, para nos auxiliar com algumas informações.

        As origens do LCE remontam ao ano de 1976, com a aprovação de um grande projeto de pesquisa, segundo o professor Kestenbach: “Antes da minha chegada, o DEMa tinha conseguido o seu primeiro grande projeto de pesquisa institucional em 1975 ou 76, financiado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e administrado pela FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos). Este projeto, no valor de aproximadamente US $450.000,00, foi utilizado para a compra dos primeiros equipamentos de grande porte, dentre eles um microscópio eletrônico de varredura (MEV) [...]”. Logo quando chegou ao DEMa, em 1979, Hans-Jürgen foi nomeado coordenador desse projeto de pesquisa e, por dois anos, dedicou-se a angariar recursos para a compra de um microscópio eletrônico de transmissão (MET). Finalmente, em 1981 e com os dois equipamentos instalados, foi criado o Laboratório de Microscopia Eletrônica (LME), predecessor do LCE: “Quando este microscópio foi instalado, em 1981, nós decidimos juntar o MEV anterior com o novo MET para formar um LME (Laboratório de Microscopia Eletrônica), que virou um LCE (Laboratório de Caracterização Estrutural) apenas muitos anos mais tarde, quando tínhamos investido em equipamentos mais modernos de raios-X e outros microscópios de sonda.” Outro ponto de destaque apontado por ele foi a consolidação do nome do laboratório, que passou a ganhar relevância e reputação após o início da oferta de serviços pagos para outras universidades e empresas. Além disso, esse processo de abertura foi fundamental para garantir novas fontes de financiamento e viabilizar a auto sustentação do Laboratório.

        Cabe aqui explicar o caráter multiusuário do LCE. Por mais que haja técnicos e professores responsáveis pelo laboratório, todos os usuários podem utilizar as dependências. Além disso, os que possuem treinamento, também podem operar os equipamentos. Assim, há uma via de mão dupla com trocas de experiências e conhecimentos. Além disso, as agências de fomento entendem que é uma grande chance de ajudar no desenvolvimento de pesquisas vindas de outras instituições, garantindo, assim, maior apoio nos projetos solicitados. Dessa forma, garante-se um laboratório de ponta com uma grande possibilidade de compartilhamento de aprendizado. Claro que o lado financeiro também é importante e, além do incentivo vindo de FAPESP, CNPq, etc., o valor cobrado de todos os usuários também ajuda muito na manutenção do Laboratório.

        Inclusive, desde sua criação, o capital está sempre relacionado ao que tange os principais desafios enfrentados pelo Laboratório: “Os desafios de financiar a manutenção de uma infraestrutura tão cara sempre foram enormes”. Uma passagem muito relevante, segundo o professor, foi quando, ao final da década de 1980, a FINEP criou um programa para a recuperação da microscopia eletrônica no Brasil. “Eu e um colega, ambos especialistas em transmissão, submetemos um projeto para aprendermos técnicas de observação de polímeros e cerâmicas em MET. Foi a primeira vez que nós, meros mortais, podíamos pedir dinheiro para viagens científicas ao exterior. Ele foi a Stuttgart no Instituto Max Planck para conhecer tudo sobre os materiais cerâmicos, e eu fui à Universidade de Reading na Inglaterra, onde trabalhava um professor, que tinha sido o primeiro no mundo que descobriu a estrutura lamelar dos polímeros semicristalinos no MET, junto ao seu orientador, na época que era aluno de doutorado. Acho que esta iniciativa também contribuiu para que o nosso LME — e mais tarde LCE — eventualmente se tornasse um laboratório multiusuário”.

        Ainda sobre o aspecto financeiro da operação do laboratório, o professor Kestenbach nos explicou a importância dos projetos de fomento para a consolidação do LCE após a sua criação. Com destaque para as agências FAPESP e CNPq, essa importância pode ser observada em duas frentes. A primeira delas se faz pelo subsídio para profissionais do DEMa e de outras instituições que contratam o laboratório para suas pesquisas. Há, também, o custeio de equipamentos e manutenções, conforme nos disse Hans-Jürgen: “Eventualmente utilizamos grandes projetos institucionais da FAPESP para comprar novos microscópios e outros equipamentos de grande porte, e do CNPq para comprar equipamentos menores (para a preparação de amostras por exemplo) e fazer o pagamento dos contratos de manutenção. Estes contratos para instrumentos como microscópios eletrônicos são caros, e a FAPESP, por exemplo, sempre argumentou que a manutenção dos laboratórios, mesmo que eles fossem instalados com dinheiro da própria agência, era responsabilidade da instituição. Em resumo, pode-se dizer que a criação e a manutenção do LCE se devem aos financiamentos das seguintes agências de fomento: BID/FINEP para a criação, FAPESP e um pouco CNPq para o crescimento, CNPq e os serviços para a manutenção do LME/LCE”.

        Esse desenvolvimento do Laboratório foi corroborado, também, pela mudança do Departamento da área sul para a área norte, em meados de 1985, com a qual o DEMa pode se dividir nos atuais três prédios principais. Assim, foi possível ter espaço para todos os laboratórios e, especificamente, para que “(...) agora tivéssemos um LCE em prática, embora sem este nome e unido apenas pelo espaço físico”. Anos mais tarde, em 2008, houve a mudança do LCE para o prédio atual e, com isso, uma nova infraestrutura fez com que o Laboratório “mudasse de patamar”, segundo o professor. Com a importância e a demanda do LCE, somadas com a grande expansão do DEMa, e “(...) liderados pelo professor Alberto, que considero o pai do novo prédio, a Reitoria da UFSCar aprovou o nosso projeto e começou a construção do prédio. Devido a esta mudança, foi possível adquirir equipamentos mais sofisticados, que demandam infraestrutura particular, novos laboratórios de apoio e escritórios para o pessoal, de modo a aumentar a equipe do laboratório e a colaboração entre os funcionários, alunos e professores, o que também foi um ponto significativo”, finaliza Hans-Jürgen.

        Esperamos, com este texto, ter esclarecido os principais pontos da história do LCE desde as suas origens - antes mesmo de receber esse nome -, além de seus princípios de funcionamento. Agradecemos, novamente, a ajuda do professor Hans-Jürgen Kestenbach, que nos ajudou com diversas informações dos bastidores do laboratório. Sem sombra de dúvidas, o Laboratório de Caracterização Estrutural desempenha um papel fundamental em vários aspectos do DEMa e terá muitos anos mais de história!

Resgatando nossa história - LaMaV

LaMaV - Laboratório de Materiais Vítreos 

        1976. Esse é o ano que marca o início da trajetória do LaMaV, o Laboratório de Materiais Vítreos do DEMa. A história do laboratório está intimamente ligada ao desenvolvimento do curso de Engenharia de Materiais da UFSCar, uma vez que é a partir do início das atividades do LaMaV que a área de vidros debuta no departamento. Reconhecido e prestigiado internacionalmente, o laboratório recebe inúmeros estudantes e professores visitantes do exterior, que buscam a troca de conhecimentos e experiências em materiais vítreos, especialmente nas áreas de vitrocerâmicas, biomateriais, propriedades elétricas, térmicas e mecânicas de vidros, além de processos dinâmicos tais como cristalizações. Nesse sentido, o Jornal A Matéria, em parceria com o DEMaEx, traz a jornada do laboratório sob a ótica do Prof. Dr. Edgar Dutra Zanotto, professor sênior do DEMa e fundador do LaMaV. 

        Até o ano de 1975 não havia pesquisador especialista em vidros no Brasil, e isso estava prestes a mudar quando um professor estadunidense foi convidado pelo chefe do DEMa à época para lecionar uma disciplina aos discentes de Engenharia de Materiais. “O meu interesse pelos materiais vítreos e, consequentemente, a criação do LaMaV, resultou de certas coincidências”, lembra o professor Zanotto, “quando eu estava no 5º ano da graduação em Engenharia de Materiais, recebemos o professor americano aposentado O. J. Whittemore, especialista em cerâmicas que tinha um único projeto em vidros, e que me orientou em um trabalho de iniciação científica sobre vidros para encapsular rejeitos radioativos. Esse era um de seus projetos de pesquisa e ele gostaria de continuá-lo aqui no Brasil. Foi minha primeira IC remunerada, porque até então as bolsas FAPESP e CNPq eram raríssimas, assim como o número de engenheiros de materiais no Brasil. Dessa forma, comecei a trabalhar no projeto e ler artigos e livros sobre vidros; e neste momento iniciou meu interesse pela área”. 

        Em meados do ano de 1976, ainda em seu último ano da graduação, o professor relembra que recebeu propostas de emprego em duas grandes empresas, foi aprovado em uma pós-graduação no Rio de Janeiro e no exame da Petrobras. Todavia, um novo acontecimento coloca em seu destino a criação do LaMaV: a abertura de uma vaga para professor na área de cerâmicas no DEMa. “Eu desejava muito essa vaga, ainda que o salário para o cargo de professor auxiliar de ensino fosse o menor, quando comparado às outras oportunidades. A entrevista para o cargo foi feita em inglês, com um comitê composto por professores americanos, chilenos e brasileiros, e eu fui aprovado e contratado sem sequer ter iniciado um mestrado”. Nesse cenário, Zanotto apresentou um plano de pesquisa sobre vidros ao chefe do departamento, Deonysio Pinatti, que apreciou a sugestão, uma vez que não havia nenhuma ideia sobre estudo de materiais vítreos no DEMa até então. “Assim nasceram as pesquisas sobre vidros no departamento junto com o laboratório: o LaMaV descende da minha contratação como professor”. Em 15 de dezembro de 1976 é formalmente criado o Laboratório de Materiais Vítreos, que possuía “apenas um forninho tipo mufla e um microscópio ótico”. Nesse ensejo, o professor relembra seus esforços e deixa um ensinamento: “Quanto mais se trabalha, mais ‘sorte’ se tem”. 

        O professor Edgar era recém-formado e precisava aprender muito mais sobre vidros. “Resolvi realizar o mestrado em física, a fim de me aprofundar na ciência, no Instituto de Física da USP São Carlos (IFSC). Foi lá que conheci o professor argentino Aldo Félix Craievech, que pesquisava inúmeros materiais, incluindo metais, polímeros e vidros, com sua especialidade em SAXS (Espalhamento de Raios-X a Baixo Ângulo). Concluí o mestrado orientado pelo prof. Aldo, e comecei a produzir meus primeiros vidros, já como professor no DEMa, porém, eu ainda sabia muito pouco sobre esse maravilhoso, mas complexo material. O professor Aldo conhecia um professor referência na área de materiais vítreos, Peter James, que trabalhava no maior departamento na área de vidros no mundo, na Universidade de Sheffield na Inglaterra”. Zanotto conta que após os acertos para realizar o doutorado com o especialista inglês, sua meta era clara: adquirir conhecimentos necessários e suficientes para voltar ao Brasil e implementar no LaMaV. Após o afastamento de 3 anos concedido pelo DEMa para realizar o doutorado, em que recebeu uma bolsa da CAPES, Zanotto retornou com suficiente bagagem científico-tecnológica. Logo após, o professor auxiliou na criação da pós-graduação no departamento, principalmente do curso de doutorado — juntamente com os professores José Agnelli e José Roberto da Silva, ambos aposentados — e, inclusive, foi o orientador da primeira tese de doutorado do programa. “Nessa altura, o laboratório começou a receber recursos a partir da submissão de projetos de pesquisa à FAPESP e ao CNPq. Após alguns anos, contratamos o professor Oscar Peitl e a professora Ana Candida, até hoje partes importantíssimas do LaMaV, que atualmente conta com 5 professores, incluindo os docentes Marcelo Andreeta e Murilo Crovace”. 

        Quando questionado sobre a importância do financiamento de agências de pesquisa, o professor é categórico: “são essenciais”. Hoje o Laboratório conta com um grande projeto de Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID), o conhecido CeRTEV (“Center of Research, Technology and Education in Vitreous Materials”), financiado pela FAPESP. Este projeto conta com cerca de R$ 33 mi, divididos com grupos da USP e da UNESP nos 11 anos de duração (2013-2024), o que tem contribuído muito para o desenvolvimento do Laboratório e de suas pesquisas. Além deste, o maior dos projetos do LaMaV, o Centro também conta com apoio do CNPq e alguns projetos financiados por empresas. Além de ressaltar a importância do financiamento público e privado para a sobrevivência da pesquisa, o professor conclui: “nos últimos anos a situação piorou muito. Se não tivéssemos os projetos privados o Laboratório não conseguiria manter nem metade dos alunos e pós-doutorandos que tem hoje”. 

        Ao lado de tantas conquistas nesses quase 45 anos de Laboratório, o professor Zanotto defende que o maior legado são os/as profissionais formados/as. Os números são irrefutáveis, uma vez que já passaram pelo LaMaV cerca de 150 pós-graduados/as e mais 150 alunos/as de IC. O professor encara a pesquisa como etapa importantíssima na preparação dos alunos: “Devo minha carreira acadêmica àquela bolsa de IC que obtive no quinto ano de graduação. Um aluno de IC cresce muito, aprende o método científico, a realizar pesquisa, a trabalhar em grupo, apresentar seminários, ler artigos, realizar revisão crítica de literatura e também a valorizar o ensino. A pesquisa é proativa, é muito mais clara e educativa do que ouvir alguém falando”. Junto aos quase 500 trabalhos publicados — sendo muitos premiados —, e cerca de 30 patentes, há muitas pesquisas que se tornaram referências, como as novas definições de vidros e vitrocerâmicos, o desvendamento do fluxo dos vidros dos vitrais de catedrais medievais [1], os biovidros [2], entre outros. 

        Claro que todo esse trabalho vem acompanhado de muitas dificuldades, desde menores — como o relacionamento interpessoal —, até em situações ligadas à falta de recursos e à infraestrutura (quedas de energia e falta de água no campus, por exemplo). Somado a isso, o Brasil é um país importador de equipamentos científicos e insumos, então a reposição de equipamentos, reagentes e outros materiais é lenta e cara, o que, muitas vezes, pode interromper uma pesquisa. “Já houve casos em que uma lâmpada de um refratômetro queimou, mas a empresa alemã nem a produzia mais. Para não descartarmos o equipamento, conversamos com amigos da USP que, por sorte, doaram essa lâmpada. E essa é uma grande vantagem de estarmos em São Carlos, rodeado pelos excelentes departamentos e infraestrutura de pesquisa da UFSCar, USP e EMBRAPA!”, relata. 

        Por fim, quando questionado sobre um fato marcante da vasta história do LaMaV, o professor Zanotto relembra uma ocasião em 2016, a “Advanced School on Glasses and Glass-Ceramics” (Advanced School on Glasses and Glass-Ceramics — English (ufscar.br)), um evento com o intuito de mostrar o que era feito no Laboratório e aumentar o contato e a rede de colaboração nacional e internacional. Na ocasião, foram selecionados (com direito a hotel e passagens aéreas) 100 doutorandos/as em vidros, metade atuante no Brasil e a outra metade de qualquer lugar do mundo. Os/as estudantes estrangeiros/as foram selecionados e, ainda, se somaram a eles mais 20 que vieram por conta própria, assim como mais 40 brasileiros/as. Todos ficaram 8 dias tendo aulas e realizando mini projetos a serem apresentados no último dia. “Surgiram muitos projetos maravilhosos e, inclusive, alguns foram aproveitados para teses. Assim, aumentamos os contatos no mundo todo, muitos frutos do evento”. O professor finaliza dizendo que o segundo evento teve de ser adiado por conta da pandemia, mas espera que seja realizado em um futuro próximo. 

        Desejamos que este texto tenha elucidado alguns pontos da vasta história dos quase 45 anos do Laboratório de Materiais Vítreos, desde sua criação até o desenvolvimento de muitas pesquisas importantes. Novamente, agradecemos o professor Zanotto pelo grande auxílio na coleta de informações e pela narração de fatos essenciais para se conhecer sobre o LaMaV. Sem sombra de dúvidas, o Laboratório é indissociável do crescimento e expansão do DEMa e terá muitos mais anos de história. 

Referências: 

[1] Do cathedral glasses flow? Zanotto, Edgar Dutra. American Journal of Physics, May, 1998, Vol.66(5), p.392(4) 

[2] Crovace, M.C., Souza, M.T., Chinaglia, C.R., Peitl, O., Zanotto, E.D. Biosilicate® - A multipurpose, highly bioactive glass-ceramic. in vitro, in vivo and clinical trials J. Non-Crystalline Solids(2016) 432, pp. 90-110. https://www.scopus.com/inward/record.uri?eid=2-s2.0-84948117893&doi=10.1016% 2fj.jnoncrysol.2015.03.022&partnerID=40&md5=0a9707eb70c8e208e79fb27df28c42 0



Resgatando nossa história - PPGCEM

PPGCEM - Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais

        O DEMa é, sem dúvidas, um departamento de excelência em todos os aspectos, seja pela qualidade de seus cursos de graduação, por sua infraestrutura completíssima ou pelo talento de seus docentes. Hoje, na nossa linha do tempo em parceria com a DEMaEx, falaremos sobre um fator de extrema importância para a excelência acadêmica do Departamento: o Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais, ou PPGCEM, fundado em 1979.

        Para nos ajudar nessa missão, conversamos com o Dr. Angelo Rubens Migliore Junior, que foi o primeiro doutor formado pelo PPGCEM! Esperamos que gostem de mais este passeio pela história do DEMa.

        Primeiramente, é importante pontuar que, em seus anos iniciais, o PPGCEM ofertava apenas o programa de mestrado – cuja primeira dissertação foi defendida e aprovada em 1981. Seis anos depois, foi criada a primeira turma de doutorado, com cerca de 8 a 10 alunos. Entre eles, estava o Prof. Rubens Migliore, o qual já tinha vínculo com o DEMa, uma vez que ele era docente à época: “Eu já era docente do departamento. Entrei em 1985, concluí o mestrado na USP em 1987 e, logo que acabei o mestrado, engatei no doutorado.” O vínculo de Rubens Migliore com a UFSCar ocorreu meio de um concurso para lecionar a disciplina de Resistência dos Materiais I (hoje Mecânica dos Sólidos I) e, em seguida, a disciplina de Resistência dos Materiais II – “Sempre atuei na área estrutural. Enquanto eu estava no mestrado, na USP, a Universidade Federal precisou de substituir docente afastado para ser Reitor da UFSCar Nesse meu primeiro contato com a UFSCar, lecionei ao lado dos Professores Libardi e Komatsu tanto as disciplinas Resistência dos Materiais I. quanto à disciplina Resistência dos Materiais II.”

        Logo após concluir o mestrado – já na posição de docente do Departamento –, Rubens optou por continuar sua pós-graduação no PPGCEM, onde fez parte da primeira turma de doutorado: “Como eu estava no DEMa, eu queria trabalhar com assuntos relacionados ao Departamento. Então, logo após passar para o doutorado, meu assunto principal foi corrosão de metais. Entretanto, meu orientador foi chamado para ser Vice-Reitor da UFSCar e, depois de um ano, ele me informou que não poderia me orientar mais, pois estava muito atarefado. Por conta de meu interesse na área de materiais cerâmicos e em métodos computacionais, fui orientado pelo Professor Zanotto, o qual propôs um trabalho ligado a modelos matemáticos para analisar propriedades termo-mecânicas de materiais cerâmicos.” Um dos pontos destacados por Migliore em nossa conversa foi a qualidade da orientação recebida dentro do DEMa. Ele lembra, ainda, que apesar de ter trocado de orientador durante o doutorado, foi o primeiro a defender sua tese: “[...] mesmo com a mudança de orientador, ainda fui o primeiro a concluir o doutorado – que durou quatro anos e meio –, pois tanto eu quanto meu orientador éramos muito objetivos e focados, e acabou sendo uma experiência muito produtiva e prazerosa.” Após a conclusão de seu doutorado, em 1992, Rubens Migliore permaneceu por um período em dedicação exclusiva à UFSCar e, após certo tempo, foi convidado para lecionar, também em uma outra instituição. Em 1996, após alguns anos lecionando em dedicação parcial tanto na UFSCar quanto na outra instituição, o primeiro doutor formado pelo PPGCEM se desligou do DEMa para se dedicar às próximas etapas de sua carreira: além da docência em outras universidades, Rubens Migliore também fundou sua própria empresa com um antigo colega de graduação. Ele enfatiza a importância dos conhecimentos e habilidades adquiridas durante sua passagem pelo departamento: “O engenheiro, além da capacidade de pesquisa, também tem de ter a postura de resolver problemas do dia a dia profissional. Eu e um colega da graduação fundamos a empresa, e trabalhamos lá principalmente com concretos do tipo armado, pré-moldado e protendido. A minha formação, com estudos em corrosão em metais aliada ao estudo das cerâmicas, é muito útil e me possibilita ter uma perspectiva mais ampla, de modo que eu utilizo os conceitos de Engenharia e Ciência dos Materiais na Engenharia Civil na solução de problemas de patologias, reforço estrutural, corrosão, incêndio etc., tendo uma visão diferenciada tanto no micro quanto no macro, e assim, obtendo resultados de trabalhos profissionais diferenciados unindo essas duas áreas de conhecimento de Engenharias.”

        O Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais, tendo até então obtido nota 7 – que corresponde à nota máxima – em todas as avaliações feitas pela CAPES, é um dos programas de pós-graduação mais conhecidos e mais respeitados tanto no Brasil quanto no mundo na área de Materiais, contando com laboratórios de ponta em todas as áreas de interesse e docentes altamente qualificados e muito experientes.

        O PPGCEM foi fundado há 41 anos, e nesse período de tempo, já formou mais de 900 mestres e mais de 400 doutores na área de Ciência e Engenharia de Materiais, promovendo capacitação tanto para aqueles que decidem seguir a área acadêmica quanto para os que optam por trabalhar na indústria ou empreender. No caso do Dr. Angelo Rubens Migliore Junior, sua participação no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais do DEMa colaborou tanto em seus anos como docente – quando atuou como professor e pesquisador – quanto em seu empreendimento, fornecendo conhecimento e competência para que ele, por meio de sua empresa, pudesse prover um trabalho competitivo e significativo para a indústria de Construção Civil.

        Esperamos que tenham gostado deste passeio pela história de um dos principais triunfos do DEMa! Agradecemos novamente ao Dr. Angelo Rubens Migliore Junior pela entrevista. No próximo mês, falaremos sobre a criação da Associação Brasileira de Polímeros, a ABPol, contamos com vocês lá!

Resgatando nossa história - ABPol

Associação Brasileira de Polímeros - ABPol

Continuando o nosso projeto de linha do tempo, em parceria com a DEMaEx, chega a vez de contarmos a história da criação da Associação Brasileira de Polímeros, a ABPol. Desejamos que vocês apreciem mais essa história rica e importante para o desenvolvimento da Engenharia de Materiais no país.

O ano de 1988 marca a história do setor de polímeros no Brasil de forma notável: é a data de criação da ABPol, a Associação Brasileira de Polímeros. No decorrer do tempo, essa associação desempenhou e desempenha papel fundamental na geração de competências aos profissionais da área, além de possibilitar eventos que congreguem especialistas e conhecimentos sobre os materiais poliméricos. Até os dias atuais com sua sede em São Carlos, não é apenas isso que a torna tão próxima do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar, mas também o fato do DEMa ter sido cenário dos primeiros capítulos da história da Associação. Nesse sentido, convidamos nossos leitores para conhecer ainda mais sobre a ABPol e sua criação, neste texto do Jornal A Matéria em parceria com a DEMaEx, sob a imprescindível contribuição do professor Luiz Antonio Pessan, ex-presidente e atual membro da Associação. 

Inicialmente, Pessan relembra que era março de 1988 quando, no corredor em frente das até então salas da professora Rosário Bretas e do professor Sebastião Canevarolo, houve uma conversa entre ele e os professores Rosário Bretas, Sebastião Canevarolo, Silvio Manrich, e José Alexandrino Sousa, acerca da falta de uma associação de polímeros, uma vez que as áreas de metais e de cerâmicas já possuíam associações fundadas, em 1944 e 1953, respectivamente: “A participação dos docentes do DEMa na criação da ABPol foi fundamental, pois a ideia inicial surgiu em uma conversa pelos corredores do Departamento. Depois, levamos essa ideia adiante, dado que já era 1988 e não possuíamos nem uma revista ou um congresso voltado para a área de materiais poliméricos, e considerávamos importante que as pesquisas e trabalhos brasileiros fossem divulgados, reconhecidos e respeitados tanto no Brasil  como também no exterior”. Nesse cenário, o professor afirma que, na época, enviaram inúmeras cartas a pesquisadores e empresas da área de polímeros, e, após algum tempo, a ABPol foi oficialmente criada, em 23 de setembro de 1988: “No dia, a cerimônia foi realizada no teatro Bento Prado Jr na UFSCar, e reuniu cerca de 145 pessoas, que são consideradas as fundadoras da Associação, inicialmente chamada de ABP”. É interessante ressaltar que durante um período a secretaria ABPol funcionou na própria casa do professor Silvio Manrich, até quando o DEMa cedeu uma sala no laboratório de polímeros, em meados de 1989. Após isso, a Associação se estabeleceu no centro da cidade de São Carlos, primeiro em imóveis alugados e posteriormente, a partir de 2007, em uma sede própria. 

Os profissionais da indústria, ainda que muitas vezes possuam agendas mais difíceis de conciliar, estão sempre presentes nas atividades da ABPol, assumindo cargos no conselho, na diretoria e também na presidência: “Prezamos para que a função da presidência, que se renova a cada 2 anos, seja revezada por profissionais do meio acadêmico e industrial, de modo que ambos tenham participação ativa na Associação”.

O professor Pessan também relembra que os dois primeiros congressos da ABPol se realizaram na cidade de São Paulo, já que buscavam a maior participação  possível de profissionais da academia e da indústria brasileira, com grande concentração em São Paulo, além de diversos convidados do exterior, todavia, isso acabou mudando, dado que a capital se tornou muito cara para a realização dos eventos e também demandava muito tempo em deslocamento dos participantes, em função do congestionamento no trânsito constante. Ainda nesse contexto, é em 1991 durante o I CBPol, primeiro Congresso Brasileiro de Polímeros, que é lançado o primeiro número da revista Polímeros Ciência e Tecnologia, uma vez que, até então, só haviam sido publicados boletins pela Associação. Além do maior congresso brasileiro de polímeros, a ABPol também ajudava na organização de diversos outros, tais como o International Conference of the Polymer Processing Society (PPS), o Congresso Brasileiro de Ciência e Engenharia de Materiais (CBECiMat), Simpósio Latinoamericano de Polímeros (SLAP), World Polymer Congress IUPAC-MACRO, entre outros.

Além das atuações nos Congressos e na Revista, a ABPol é responsável pela organização de diversos cursos com o objetivo de levar para a comunidade o conhecimento acerca dos materiais poliméricos: “Muita gente trabalha com polímeros e não tem uma formação na área, então nossos cursos levam esse conhecimento para essas pessoas, desde cursos introdutórios, até cursos mais específicos”, relata. Outra atividade muito importante exercida pela Associação se trata das Comissões Técnicas para estabelecimento e denominação de normas técnicas, bem como ensaios interlaboratoriais, visando a padronização dos métodos.

Por fim, a ABPol é responsável pela organização de diversos prêmios, como o Prêmio Profa Eloisa Mano (em homenagem à grande pesquisadora e pioneira na área no Brasil, conferido às pessoas que contribuíram de forma significativa para a área e para a comunidade na área de polímeros no Brasil), Prêmio de Tecnologia de Polímeros (o qual condecora profissionais com contribuições  mais aplicadas à área industrial), o Prêmio Jovem Pesquisador no CBPol, entre outros.

Com todas essas atividades realizadas pela ABPol, o professor é categórico: “Acredito que a ABPol atingiu seus objetivos, pois atualmente a comunidade de polímeros no Brasil é bem forte e integrada”.

Ao ser perguntado sobre a conexão entre a indústria e o meio acadêmico, o professor diz que a ABPol ajudou, mas que essa conexão era diferente dependendo da área, e é um pouco assim até hoje, mas de forma amenizada. Em São Carlos sempre houve muita interação com a indústria, em parte graças ao grande número de ex-alunos que se insere nesse meio. Essa conexão nem sempre ocorria, e até hoje às vezes não acontece devido ao perfil da indústria ou ao perfil do departamento, mas a ABPol, nos congressos, sempre tem participação tanto de profissionais da comunidade científica, quanto de profissionais das empresas. Assim, nesses encontros todos, sempre acontece também o contato e uma troca de experiências, que muitas vezes dão origem a algum trabalho conjunto entre esses dois setores.

Outra função importante exercida pela ABPol é a produção de livros didáticos, e a divulgação de artigos científicos brasileiros para o exterior: "Nós tínhamos poucos livros de polímeros em português, então a associação encorajava que os colegas produzissem livros, o que facilita o aprendizado, e faz com que este alcance mais pessoas, então foi bem importante. A revista foi criada bem antes, com o objetivo de divulgar artigos e trabalhos feitos aqui. Para os artigos, a revista Polímeros aceita trabalhos somente em inglês, para que as pessoas do exterior consigam ler, entender, e dar a devida repercussão."

Quanto às expectativas em relação à ABPol, o professor diz que o que sempre buscamos é passar para as gerações mais novas o conhecimento e o comando das atividades, então buscamos sempre que tenham pessoas mais novas participando e trabalhando tanto na associação, quanto na área de polímeros como um todo. A expectativa é que as pessoas mais novas deem continuidade na associação, e que essas pessoas integrem tanto a academia quanto às empresas na ABPol, de modo que aconteça um desenvolvimento mútuo em ambas as partes.

Como mensagem aos leitores - dediquem-se a busca de seus sonhos, dediquem-se ao que vocês projetam como correto para o futuro, não apenas seu, mas de toda a comunidade, e trabalhe bastante para atingir seus objetivos - finaliza o professor Luiz Antonio Pessan.

Resgatando nossa historia - CA

Centro Acadêmico -CAMa (Conversa com Henrique Finocchio, diretor do Centrinho nos anos 2000)

        Dando continuidade ao quadro Resgatando Nossa História, neste texto abordaremos a trajetória do Centro Acadêmico da Materiais (CAMa), que é, essencialmente, a ponte entre os estudantes e a coordenação de curso do Departamento. Criado em 1994, o Centrinho, como foi carinhosamente apelidado pelos alunos, é o responsável pelo suporte aos assuntos acadêmicos, tais como a organização e divulgação de datas e eventos importantes, além de aproximar os estudantes por meio de momentos de descontração. O CAMa, mesmo durante esse período de isolamento social imposto pela pandemia, atuou de forma a conectar os discentes com o DEMa, especialmente através de projetos como “Se Liga Bixo” e também o mural de IC online.

        Para o passeio pela história desse projeto de extensão tão tradicional em nosso Departamento, o Jornal A Matéria, em parceria com a DEMaEx, convidou o ex-membro da diretoria do Centrinho, Henrique Finocchio, para uma conversa sobre o período em que trabalhou no CAMa e suas principais recordações dessa época.

        De início, Henrique relembra sua trajetória na Engenharia de Materiais, que se inicia após se formar no Ensino Médio em uma escola pública e não ser aprovado no vestibular de Engenharia Civil. Durante o cursinho, manteve contato com um amigo que havia sido aprovado em Materiais, e sua afinidade com química o fez seguir o conselho desse companheiro e prestar o vestibular. Então, no ano de 2002 iniciou sua graduação no DEMa. Hoje, após a graduação, o mestrado e o doutorado, Henrique é um dos proprietários de uma empresa que atua na área de Polímeros, a Afinko: “Atualmente, temos 7 anos de empresa e é um grande prazer trabalhar tendo contato com a área – muitos de meus colegas foram trabalhar em setores diferentes do de materiais, como a área bancária, por exemplo. Para mim, é muito prazeroso trabalhar com o que aprendi na pós-graduação”, afirma o empresário.

        Henrique recorda que teve contato com o Centro Acadêmico desde muito cedo, já no primeiro dia de trote, uma vez que a recepção era organizada pelo CA. Como precisavam ir ao centro da cidade para realizar o trote, ele conta que durante o trajeto foi acompanhado por um membro bastante ativo do Centrinho, que esteve junto a ele nos bares, e acabou o reencontrando na cervejada dos calouros, que ocorreu em uma república, também no centro de São Carlos. Como foi um dos primeiros a chegar no evento, ficou conversando com o veterano, que o convidou para participar do projeto de extensão. Inclusive, foi nessa festa que o empresário teve seu apelido de Ensino Médio reafirmado: batata. Henrique relembra que começou a participar do Centrinho no início de sua graduação, e, após 2 anos de dedicação intensa, no terceiro ano da faculdade passou a ter um foco maior no curso, retornando do hiato ao final da graduação: “No meu quinto ano, voltei a trabalhar no CA. Uma passagem interessante que lembro até hoje foi o dia em que a chefia de Departamento tentou tomar a nossa sala. Chegamos de manhã e alguém havia trocado a fechadura. Acabamos arrombando a porta, retiramos todas as ‘tralhas’ do CA e as colocamos no saguão do DEMa. O pensamento realmente era ‘se não temos sala, vamos ficar aqui’. Mas, hoje, admito que a chefia estava com a razão, já que isso foi logo após uma cervejada na sala do CA em que as coisas saíram um pouco de controle. Após esse incidente, ficamos proibidos de continuar a realizar as cervejadas em frente ao Departamento.”

        Henrique também conta que, na época, o cargo de presidente do centrinho, como conhecemos hoje, não existia. Sua função no centro acadêmico era como diretor de esportes, mas como ele, e outros dois colegas, eram os mais ativos e dedicados ao CA, e tinham um certo perfil de liderança, eram eles quem acabavam exercendo a função de, mesmo que informalmente, liderar o projeto, “Na minha época, apesar de não haver muita hierarquia no CA, ninguém nunca precisou ‘dar carteirada’ com o título”. Após algum tempo, Henrique diz que tornou-se representante discente, e passou a tentar participar mais do DCE, mas lá havia uma presença e uma influência grande dos partidos políticos e de ideologia nas decisões, enquanto as decisões que ele era responsável por tomar eram baseadas na realidade dele e de seus colegas de curso, e não no contexto político e ideológico, o que, segundo Henrique, “não era muito sua praia”.

        Perguntado sobre seus maiores desafios na diretoria do CAMa, Henrique cita as cervejadas feitas no gramado do DEMa, que apesar de causarem prejuízo, valiam a pena, pois eram feitas para as pessoas do curso. Comentando os desafios, ele fala do trabalho como organizador e árbitro do Interenge (torneio das engenharias da UFSCar), em que aprendeu a lidar com situações como problemas com brigas, xingamentos e a alta quantidade de times – que, em algumas edições, chegava a 40 equipes. Por fim, menciona o Churrasco da Materiais e a dificuldade de organizar festas para centenas de pessoas: em sua primeira participação, o público era de 300 pessoas, na segunda, realizada na tradicional república Pastelaria do Ganso, eram 600 estudantes. A quantidade de convidados seguiu aumentando até atingir 1000 pessoas no fim de sua gestão e 2000 no ano seguinte. Para Henrique, aprender a organizar festas dessa dimensão foi muito difícil, principalmente por conta de problemas de logística e vizinhança, dado que as repúblicas que sediavam os churrascos eram localizadas no centro da cidade.

        Quanto aos momentos mais gratificantes no centrinho, Henrique se recorda que embora os estudantes, durante os jogos, criticassem seu desempenho como juiz no Interenge, ao final do campeonato, era perceptível a gratidão de todos pelo evento, e com a ajuda de alunos de outros cursos na organização do campeonato, foi possível observar um maior engajamento, e maior valorização do esforço que demandava essa organização, o que também o trouxe bastante gratificação; além da participação no evento, que segundo ele, por si só, já era muito gratificante.

        Além da experiência na organização das cervejadas, e dos eventos esportivos, Henrique relata que durante seu tempo no centrinho da materiais, ele também pode aprender e exercitar habilidades como a negociação com outras pessoas, apresentação e discussão de ideias, dentre outras habilidade nesse sentido. -- “Querendo ou não, um diretor do CA não tem muita autoridade, então era preciso saber conversar com os superiores para conseguir patrocínios, auxílios, entre outros”. E ainda expande para outro importantíssimo quesito: " [...] no começo, abdiquei de muita coisa pelo centrinho. No final, a conta veio e eu precisei abdicar de quase tudo para tocar a graduação – e isso foi mais uma lição do centrinho: aprendi a gerenciar meu tempo."  -- O ex-diretor do CA conta que esses e outros aprendizados se mostraram muito importantes alguns anos depois, quando ele começou sua empresa. Ademais, segundo Henrique, o projeto de extensão e a universidade o amadureceram como pessoa, dado que antes da graduação ele era muito mais retraído e sem proatividade, mas que, como na faculdade é preciso resolver seus problemas por conta própria, acabou por desenvolver sua comunicação, sua extroversão, e sua proatividade.

        Quando perguntado sobre as mudanças que Henrique pode observar no CA ao longo de sua gestão, sua resposta remete ao crescimento dos eventos organizados no centrinho, como o crescimento do churrasco da materiais, que resultou no aumento da renda do centrinho, possibilitando um investimento mais generoso em eventos como a ida ao CeCEMM, que era parcialmente bancada pelo centrinho, para os estudantes do curso, e na produção dos “kits bixo”, que não davam um retorno financeiro considerável, mas que colaboravam para a integração dos calouros. Em paralelo ao crescimento dos eventos do centrinho, Henrique também conta sobre a queda de adesão por parte dos alunos à ida ao CeCEMM: “Ao final do mestrado, vi que o pessoal da UFSCar estava deixando de ir ao evento. Teve um ano em que, salvo engano, apenas quatro estudantes foram ao congresso. Na minha época, chegamos a levar mais de 50 pessoas para o congresso, em Porto Alegre, sendo um (01) ônibus lotado, mais as pessoas que foram de carro, ou que estagiavam lá. Henrique também comenta sobre outra mudança, dessa vez, mais relacionada à vida universitária –  “Outra mudança que pude observar foi nos gostos musicais: quando entrei, só tocava rock, em seguida veio o forró e, finalmente, o sertanejo universitário [risos].”

        Por último, Henrique deixa para os estudantes de graduação um conselho valioso: o de aproveitar ao máximo as oportunidades apresentadas pela universidade, pois essas experiências formam profissionais e pessoas mais completas. Ele se lembra, é claro, da dificuldade de conciliar vida social, graduação e projetos de extensão, mas ressalta: “Dentre a minha turma, os mais bem sucedidos atualmente participavam de extras, frequentavam as festas e têm ótimas memórias do tempo de graduação.