[18ª Edição] Entrevista com Maria Cristina Romano: Uma conversa sobre a história e a importância do PIEEG

Entrevista com Maria Cristina Romano


Escrito por: Kayque Fernando e Pietro Cazelatto Bortolini


Você poderia nos fazer uma breve apresentação do PIEEG e nos contar quais seus principais objetivos?
O nosso Programa de Estágio Curricular Supervisionado, que à época se chamava Programa Integração Escola-Empresa-Governo (PIEEG), foi criado no início do curso de Engenharia de Materiais-UFSCar, vinculado à disciplina Estágio Profissional. O estágio tem duração de seis meses, com início nos meses de janeiro e julho, em tempo integral. O principal objetivo do estágio supervisionado é proporcionar aos alunos a vivência do mercado de trabalho.

O que motivou a criação do PIEEG? Você pode contar pra gente um pouco da história e de como foi sua origem?
Em 1970 foi criado o curso de Engenharia de Materiais da UFSCar, pioneiro no Brasil, idealizado pelo professor Sérgio Mascarenhas de Oliveira. O Programa Integração Escola-Empresa-Governo foi inspirado por modelos existentes na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e no Instituto Euvaldo Lodi (IEL). Estes programas de estágio incentivavam a realização de estágio supervisionado em empresas, em tempo integral, durante um semestre, no quarto ou quinto ano da graduação. Seguindo este modelo, foi criado o PIEEG. Assim, no segundo semestre de 1973, foram encaminhados para estagiar em empresas todos os 14 alunos da primeira turma de Engenharia de Materiais. Desde então, semestralmente, os nossos alunos têm essa experiência, que muito contribui para a conclusão de sua formação acadêmica e princípio de atuação profissional.

De quais formas você sente que o PIEEG mudou ao longo dos anos? Quais foram os principais pontos de evolução?
Inicialmente o programa intermediava o contato dos alunos com as empresas da área de engenharia de materiais, buscando pelas melhores oportunidades de estágio conforme as preferências e habilidades de cada um dos alunos. Nos últimos anos, com a informatização dos processos, seja através das grandes recrutadoras via internet, agências especializadas ou das seleções nos próprios sites das empresas, o foco do programa passou a auxiliar os alunos a se prepararem para o estágio, além de direcioná-los para as empresas que melhor se adequem ao seu perfil e dar suporte para o desenvolvimento das atividades nas empresas. Mas a principal evolução é a atual possibilidade do estágio ser realizado no décimo período (não somente no oitavo ou nono), mais próximo da conclusão da graduação, aumentando as chances de contratação após a conclusão do curso.

Na sua opinião, em quais aspectos do estágio o supervisor-escola é importante?
O professor orientador indicado pela Coordenação de Estágios exerce um papel muito importante no desenvolvimento do plano de atividades do aluno na empresa. Os estagiários se deparam com situações inéditas e precisam da orientação do professor para melhor aplicar o conhecimento técnico obtido na universidade à vivência prática da empresa. Assim, o orientador dá o suporte necessário e transmite a confiança que o aluno precisa, ainda que à distância. Muitas vezes foi possível que o professor orientador visitasse a empresa para acompanhar a atividade desenvolvida pelo estagiário.

Quais as principais competências e habilidades que o PIEEG desenvolve e aperfeiçoa nos alunos?
A possibilidade do aluno poder permanecer em tempo integral na empresa por pelo menos 6 meses, desenvolvendo atividades planejadas de comum acordo entre a empresa, o aluno e a Coordenação de Estágio, abre muitas possibilidades para o aluno e pode ser determinante para a escolha do caminho profissional que vai seguir depois de concluir a graduação; para a Universidade é interessante o intercâmbio com a iniciativa privada; e, para a empresa, poder contar com um graduando com formação técnica sólida e que serve de intermediário para o desenvolvimento de Projetos de Pesquisa ou melhoria do processo produtivo. Especialmente quanto aos alunos, notamos o desenvolvimento de habilidades sociais, senso de responsabilidade e um grande amadurecimento após a experiência do estágio.

Como você se sente por fazer parte deste programa, que é um grande responsável pelo reconhecimento e prestígio do DEMa pelas empresas?
Como você bem observou, o trabalho do PIEEG é muito prestigiado. Este reconhecimento é gratificante, constantemente recebemos elogios, tanto dos alunos como das empresas (também dos ex-alunos que nelas trabalham) e até mesmo de outras universidades, que se espelham no PIEEG. Fico muito feliz de trabalhar neste programa desde 1991 e orgulhosa dos excelentes resultados obtidos pelos nossos alunos, com auxílio dos coordenadores de estágio e professores orientadores.

Caso queira compartilhar conosco, você lembra de alguma história de sucesso envolvendo o PIEEG que gostaria de nos contar?
O Programa de Estágio Curricular Supervisionado sempre foi referência. O PIEEG chegou a ser eleito como o Melhor Programa de Estágio, prêmio oferecido pelas empresas do estado do Paraná. Em várias ocasiões fomos procurados para orientar a implementação de programas semelhantes em outras universidades. Devemos este sucesso também aos nossos egressos, verdadeiros cartões de visitas da Engenharia de Materiais da UFSCar.

Como o PIEEG está se adaptando em meio a situação da pandemia?
Desde o início da pandemia de COVID-19 até este momento (outubro de 2020), o Programa de Estágio enfrenta um grande desafio. Com a determinação de distanciamento social pelas autoridades, também os estágios presenciais foram suspensos. A UFSCar, através da Resolução 319/2020, permite apenas o estágio à distância, ou seja, home office. Nos estágios da área de engenharia de materiais é importante que os alunos possam acompanhar presencialmente um processo produtivo. Por isso, as Coordenações de Curso e de Estágio solicitaram junto ao Conselho de Graduação (CoG), que a Resolução 319/2020 seja reavaliada, possibilitando que nossos alunos retomem as atividades presenciais, ao menos nos estágios obrigatórios, desde que as empresas garantam a eles as medidas de segurança sanitária. Estamos confiantes que, em breve, será possível aos alunos a continuidade dos estágios obrigatórios presencialmente e a regular conclusão da graduação com a qualidade que lutamos para manter há décadas.

Diante da história do PIEEG e da atual situação do país, como você acha que será o futuro do programa?
O Programa de Estágio foi inovador desde o início, por isso acredito que no período pós-pandemia ele passará por atualização e se adaptará à nova realidade (novo normal). A longo prazo, aposto que o PIEEG continuará a liderar com excelência, destacando o nome da Engenharia de Materiais da UFSCar.

Por fim, tem alguma curiosidade ou algo que não foi perguntado que a senhora queira compartilhar conosco?
Eu gostaria de registrar minha alegria em trabalhar no DEMa há 42 anos, e há 29 no PIEEG, agradecer à estima de todos com quem trabalhei ao longo desse período, desde os professores até os alunos. Tive o privilégio de conhecer cerca de 1.800 dos 2.000 egressos, o que me orgulha. Meu obrigada também ao Jornal A Matéria pelo convite (curiosidade: fui entrevistada em uma das primeiras edições da revista).


[Texto retirado da 18ª edição do Jornal A Matéria, disponível em: bit.ly/EdicoesAMateria]