Throwback A Matéria - 16ª edição: Novas Diretrizes: Palestra do Diretor da ABENGE

Throwback 16ª edição - Palestra do Diretor da ABENGE

Novas Diretrizes: Palestra do Diretor da ABENGE

Escrito por: Eduardo Bouhid e Pietro Cazelatto Bortolini

        A engenharia é uma área do conhecimento que acompanhou a humanidade desde seus primeiros passos. Historiadores consideram as invenções primitivas do homem, tais como a roda, a alavanca e a polia, os primeiros dos muitos frutos que essa ciência traria à humanidade. A palavra “engenheiro” teve sua origem no século XVI, em Portugal, fazendo referência aos operadores/projetistas de máquinas de guerra, chamadas de engenhos. Já no século XVIII, foi criada a primeira escola de engenharia do Brasil: a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, atual IME, no Rio de Janeiro. Desde então, a tecnologia, naturalmente, evoluiu, assim como o profissional da engenharia, em contraste com os métodos de ensino dessa ciência. Ao passo que a tecnologia em engenharia se inovou ao longo dos anos, nas universidades, os métodos de ensino permaneceram os mesmos, com disciplinas do ciclo básico, livros com respostas para exercícios ímpares e métodos de avaliação ineficazes.

        Com embasamento na premissa de um engenheiro “inovador”, “empreendedor” e “professor”, a ABENGE elaborou as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). As principais competências-chave, que alicerçam as diretrizes, agora incluem “Gestão de pessoas”, “Inteligência Emocional”, “Pensamento Crítico e Analítico” e “Tomada de Decisão e Discernimento”, dentre outras. Para tal, devem ser trabalhadas, além das competências específicas da área, a inovação, o empreendedorismo, habilidades de liderança e conhecimentos acerca de legislação e ética. Essas diretrizes foram apresentadas pelo Professor Vanderli Fava de Oliveira, presidente da ABENGE, em uma palestra no Auditório do CCET/UFSCar.

        Quanto ao escopo didático, as diretrizes trazem, em peso, as “metodologias ativas” de ensino, o que expande o ambiente de aprendizado para além da sala de aula. No contexto internacional, a 42 university, nos EUA, é uma famosa adepta das metodologias ativas. Por lá, apenas alunos frequentam as instalações, isto é: não há professores, apenas uma equipe pedagógica que propõe projetos para os estudantes, que contam com ajuda da internet e dos colegas de classe para a realização das atividades e, após concluído esse “ciclo básico”, os graduandos participam de estágios em empresas. Outro exemplo é a Maastricht University, que é baseada no conceito de PBL – Problem Based Learning, ou “Aprendizado Baseado em Problemas” – no qual os estudantes protagonizam debates nas salas de aula e os professores atuam apenas como moderadores.

        Pela primeira vez, o acolhimento foi abordado nas diretrizes, com o intuito de mitigar os índices de retenção e evasão. O professor Vanderli fez a analogia de um funil para ilustrar o problema: para cada 1000 candidatos, apenas 175 ingressam no curso e, destes, 95 concluem a graduação. Nesse âmbito, foi ressaltada, além da importância da bagagem intelectual (necessidade de conhecimentos básicos), a importância da preparação psicopedagógica e da orientação ao ingressante, a fim de melhorar suas condições de permanência no ensino superior, uma vez que grande parte da evasão nos cursos de engenharia ocorre durante o primeiro ano de curso.

        Outro assunto inédito nas DCNs foi a carga horária. É praticamente senso comum que a duração da grande maioria dos cursos de engenharia no Brasil é de 5 anos, mas somente agora esse tema foi inserido no conjunto de diretrizes: foi estipulada a duração mínima de 3.600 horas (equivalente a cinco anos), que devem ser ocupadas por “disciplinas, blocos ou eixos de conteúdos, atividades práticas laboratoriais e reais, projetos, atividades de extensão e pesquisa, entre outras.” Além disso, a definição de “atividades complementares” foi renovada, e possui agora uma acepção mais abrangente: “Realizadas dentro ou fora do ambiente escolar, devem contribuir efetivamente para o desenvolvimento das competências.”

 

[Texto retirado da 16ª edição do Jornal A Matéria, disponível em: https://bit.ly/EdicoesAMateria]