Throwback A Matéria - 15ª edição: Dicas para processos seletivos - Entrevista com Felipe Costa

Throwback A Matéria - 15ª edição: Dicas para processos seletivos: Entrevista com Felipe Costa

Dicas para processos seletivos: Entrevista com Felipe Costa

Por: Eduardo Bouhid

        Os estudantes de engenharia – de maneira quase que unânime - ingressam na faculdade com a expectativa de, ao final de cinco anos, saírem já empregados. A realidade, porém, é outra: o mercado de trabalho é um ambiente nebuloso tanto para os profissionais quanto para as empresas. De um lado, se formam em média 30.000 engenheiros por ano, que enfrentam a baixa oferta de emprego no país. Do outro, empresas sofrem com a escassez de profissionais qualificados: segundo o Prof. Dr. José Roberto Cardoso - ex-diretor da Escola Politécnica da USP - no Brasil, a cada quatro engenheiros, apenas um recebeu formação que pode ser considerada “adequada”. Por mérito disso, existem empresas especializadas no recrutamento de profissionais para seus clientes, tais como a Robert Half: a corporação é referência mundial no segmento e atua no Brasil desde 2007. Em parceria com a DEMaEx, o jornal A Matéria convidou Felipe Costa, Materiais 06, e um dos gerentes da divisão de engenharia da empresa para dar dicas sobre processos seletivos e mercado de trabalho.
        Segundo Felipe, houve uma grande mudança no perfil do engenheiro nos últimos anos: “O engenheiro antes era muito valorizado pelo técnico, mas hoje, se você procurar em qualquer deepweb da vida, você acha todo o ‘tecniquês’, o conhecimento de um engenheiro não é mais o acervo técnico da companhia, como era antigamente.” De acordo com ele, essa mudança é refletida até no comportamento da maioria dos profissionais: “Hoje, a pessoa tem que saber navegar muito bem dentro das organizações para passar essas informações. O bom engenheiro não é o que sabe tudo, mas sim o que sabe como encontrar tudo e empregar isso no dia a dia da companhia – e, consequentemente, no quotidiano das pessoas que vão usar suas aplicações. Os engenheiros de antigamente tinham o estereótipo de ‘brutões’, arrogantes, hoje em dia esses caras são os ‘dinossauros’ sem nenhum tipo de network no mercado.”
        O gerente da Robert Half pontuou também três características principais que um engenheiro deve apresentar: “As vagas de engenharia, a partir de certo nível, são bem restritas, a primeira coisa que a gente procura é o aspecto técnico, mesmo. Segundo ponto, um engenheiro precisa ter a capacidade de enxergar o negócio como um acionista, ou seja, saber como a atividade dele vai impactar o resultado da companhia, seja no controle de custos, incremento de receita, melhoria da margem [de lucro], enfim, como as novas tecnicidades da atividade dele vão incrementar a companhia que ele vai trabalhar”. Ele destacou, também, que a determinação é fundamental: “Você tem que ter a disposição de colocar a mão na massa, ir lá querendo aprender e fazer o melhor trabalho possível.”.
        Para desenvolver essas características, Felipe Costa deu algumas dicas: “O principal é se dedicar muito aos estudos que não estão somente na grade. Isso é o mais complicado, porque o conteúdo da grade já é bem difícil, mas esses conceitos são bem mais fáceis do que os que a gente já vê na faculdade.” Quanto à preparação para o mercado de trabalho, é necessário combinar os conhecimentos acerca do próprio mercado com o autoconhecimento do estudante: é preciso saber em que mercado se quer trabalhar, quais seus principais players – isto é, quais as principais indústrias, fontes de pesquisa, quem está crescendo, quem está falindo –, e isso precisa ir ao encontro dos valores, princípios e objetivos de vida do candidato.”
        Quanto aos processos seletivos, Costa comentou sobre os principais erros em entrevistas de emprego: “Soberba e arrogância, existem candidatos que acham que, só porque fizeram uma faculdade de primeira linha, todo mundo vai querer trabalhar com eles, mas num processo seletivo existem outras dez pessoas dessa faculdade de primeira linha, então você precisa ser uma pessoa gente fina, pra começo de conversa. Outro erro é não se preparar, você precisa se preparar muito e com profundidade para cada uma das entrevistas que você vai.” Nessa preparação, é fundamental “estudar” bem a empresa, para se enquadrar no perfil procurado – “Por exemplo, uma pergunta muito recorrente é ‘Por que você faz engenharia?’, você pode ter dez respostas para essa pergunta, mas dessas dez, três podem funcionar melhor para uma empresa A e outras três para uma empresa B. É importante saber que não existe necessariamente resposta certa ou errada, mas sim resposta que funciona naquele momento e que tem outras que não funcionam tão bem.”
        Por último, foram passadas algumas dicas para os processos de trainee: “Durante o trainee, você tem muita exposição, todo mundo lhe conhece e fica de olho, e você precisa jogar a seu favor com isso, construindo alianças. O principal desse período é aprender, porque, geralmente, muitos profissionais seniores falam com você, te dão dicas, te ensinam a navegar no ambiente da companhia, no segmento, várias coisas.” Ele afirma, ainda, que no começo da etapa, não é necessário se preocupar em apresentar resultados: “O trainee, nos primeiros três meses, não tem a obrigação de apresentar grandes resultados, mas dentro de seis meses a um ano ele já estará apto e será cobrado por isso. Um trainee custa cerca de 150 a 200 mil reais a mais para a companhia, por conta de todo o treinamento, viagens etc., então tem que ter um retorno financeiro sim, mas o principal é usar os primeiros meses pra aprender muito, isso faz toda a diferença.”


[Texto retirado da 15ª edição do Jornal A Matéria, disponível em: https://bit.ly/EdicoesAMateria]