[19ª EDIÇÃO] Pesquisa e Inovação: Prof. Carlos Henrique Scuracchio

Pesquisa e Inovação: Prof. Carlos Henrique Scuracchio

[19ª EDIÇÃO]

Pesquisa e Inovação: Prof. Carlos Henrique Scuracchio

Escrito por: Lia Kim

Conte um pouco sobre você e sua trajetória

        Sou natural de São Carlos mesmo, nascido e criado aqui. Durante o ensino médio (chamado de 2o grau à época), na escola Estadual Álvaro Guião, começou a famosa cobrança (mais por parte de mim mesmo) de escolher uma carreira, uma faculdade. Contando com duas ótimas Universidades praticamente no quintal de casa, sempre foi minha intenção ficar aqui em São Carlos, perto de minha família e de meus amigos de adolescência e infância.

        Acabei optando por prestar Engenharia Química na UFSCar, sendo que o vestibular da UFSCar na época era aplicado pela FUVEST. Foi somente a partir do primeiro ano de curso que comecei a conhecer melhor como funcionava a Universidade, que era um mundo completamente novo em relação ao que tinha vivido até então.

        Durante este primeiro ano, conversei com diversos colegas de outros cursos e acabei conhecendo a Engenharia de Materiais. Pude ver a importância desse curso e como a formação nesta modalidade relativamente nova da Engenharia se adaptava melhor ao que eu esperava para a minha vida profissional. Desde o começo, eu já sabia que minha ênfase seria em Materiais Poliméricos, dada a importância e a presença constante desses materiais no nosso dia a dia.

        Quando terminei a graduação, procurei a Profa. Rosário Bretas para tentar o mestrado. Nesta época, eu ainda estava indeciso se seguiria a carreira acadêmica ou não, mas, como consegui uma bolsa do CNPq, resolvi tentar. Nunca me arrependi dessa decisão!

        Terminado o mestrado, no qual trabalhei com Reologia de Polímeros, a Profa. Rosario me propôs um trabalho em reciclagem de borracha, com uma oportunidade de doutorado sanduíche nos EUA, com um dos maiores especialistas na área à época. Fiquei 7 meses em Akron, Ohio, considerada a capital da borracha. Foi uma época de muito aprendizado e amadurecimento pessoal.

        Terminado o doutorado, conheci alguns professores da FAENQUIL em Lorena (atual EEL-USP). Submeti um projeto Jovem Pesquisador da FAPESP para aquela instituição, onde trabalhei durante 2 anos e meio, até que passei em um concurso na recém inaugurada Universidade Federal do ABC, em Santo André – SP.

        Fiquei durante 7 anos trabalhando na UFABC, até que o ritmo louco da Grande São Paulo e a possibilidade de trabalhar no DEMa (local que sempre esteve no foco de minha admiração e de todos os que trabalham com Ciência dos Materiais) me incentivou a voltar para a minha terra natal. Prestei concurso para a UFSCar em 2014 e desde então tenho o prazer de trabalhar neste Departamento que sempre considerei minha segunda casa.

 

Qual o tema de sua linha de pesquisa?

        Atualmente, trabalho na área de Materiais Inteligentes, mais especificamente em polímeros eletroativos. O principal objetivo buscado em meu Grupo de Pesquisa (apelidado de SMART - Smart MAterials Research Team) é a aplicação destes materiais como atuadores mecânicos e sensores de deformação (popularmente chamados de “músculos artificiais” e “peles artificiais”). Existem diversos tipos de polímeros eletroativos, porém os que trabalhamos atualmente são baseados em mobilidade iônica, os iEAP (Ionic ElectroActive Polymers ou Polímeros Iônicos Eletroativos, em português). Também mantenho trabalho em reciclagem de borrachas - particularmente, em aplicações como aditivos em asfalto, área em que comecei em 2020 em parceria com a UFC e a USP.

 

Qual a motivação para esta pesquisa?

        O conceito de biomimetismo, ou seja, procurar inspirações na natureza para a solução de problemas tecnológicos, está presente em muitas das tecnologias hoje existentes e foi minha principal motivação. A concepção de músculos artificiais baseados em polímeros faz uso deste conceito quando tenta imitar a movimentação dos músculos naturais em estruturas sintéticas. Este tipo de atuador mecânico, em comparação com motores rotativos tradicionais, apresenta como vantagens movimentos suaves, permite miniaturização e é biocompatível, abrindo uma ampla gama de possibilidades.

 

Quais são os objetivos?

        O principal objetivo para o desenvolvimento destes materiais, dentro do meu grupo de pesquisa, é torná-los mais acessíveis economicamente, mais eficientes em termos de uso de energia e possibilitar seu uso em uma gama maior de aplicações do que as utilizadas atualmente. Para alcançar estes objetivos, é necessário entender a fundo o comportamento e os mecanismos físicos e químicos envolvidos em sua atuação. Também modelamos o comportamento destes materiais para melhorar sua previsibilidade.

Quais as possíveis aplicações?

        As principais aplicações hoje em dia estão nos chamados “robôs moles” (soft robots), ou seja, dispositivos robóticos que têm movimentação semelhante à de organismos vivos. Outras aplicações envolvem a parte de instrumentação médica, tais como cateteres, stents e sondas.

        Uma área que deve se desenvolver no futuro é a de próteses, porém uma série de desafios ainda devem ser superados para este tipo de utilização. Por outro lado, polímeros eletroativos também podem ser utilizados como sensores de deformação, com as mesmas vantagens dos atuadores. Nesta aplicação também se abre a possibilidade de uso tanto em robótica quanto na área biomédica.

 

Existem desafios a serem superados? Se sim, quais?

        Sim, ainda existem muitos desafios a serem superados para a ampla utilização destes materiais. Em primeiro lugar, o comportamento de iEAPs sofre uma grande influência do meio onde estes estão inseridos, principalmente da umidade e da temperatura ambiente. Outra dificuldade é a falta de controle preciso e o tempo relativamente alto de resposta destes dispositivos. Por último, os preços dos materiais básicos e da construção dos dispositivos ainda são altos. Nosso grupo de pesquisa no DEMa tem se proposto a encontrar soluções para estes problemas.

 

Há vagas de ic para a área? Se sim, existem pré-requisitos?

        Sim, novos alunos de IC são sempre bem vindos em nosso grupo de pesquisa! O principal pré-requisito é a curiosidade em aprender coisas novas. O trabalho envolve diversas áreas: desde Controle e Programação até Ciência dos Polímeros e Eletroquímica. Boa capacidade de trabalho em grupo também é essencial, já que consideramos a troca de informações entre os pesquisadores um fator importante para se chegar mais longe. Um bom histórico acadêmico também é importante, principalmente para que se consiga bolsa da FAPESP, que tem sido a principal financiadora do projeto.

        Caso queiram saber mais informações, nosso site é: www.smart.ufscar.br

 

[Texto retirado da 19ª Edição do Jornal A Matéria, disponível em: bit.ly/EdicoesAMateria]