Pandemia em Outros Países

Pandemia em Outros Países


Por Lia Kim Rodrigues e Augusto da Veiga

        Se quatro meses atrás dissessem que estaríamos prestes a entrar na maior crise sanitária do mundo desde a gripe espanhola seria difícil de acreditar. A ideia de que um vírus, um ser que por muitos pesquisadores nem vivo é considerado, que se multiplicava na China, pudesse mobilizar a vida de todos era difícil de visualizar. Mas após notificações do representante da China da Organização Mundial da Saúde de casos de pneumonia por causa desconhecida na província de Wuhan, no começo de janeiro deste ano, foi uma questão de dias para a confirmação da circulação de um novo coronavírus. Vírus este ainda bastante desconhecido que passou a ser chamado de Sars-CoV-2, causador da doença Covid-19, e que, rapidamente, se espalhou por todos os continentes mudando o mundo e as relações como conhecíamos até então.
        Porém, foi somente quando o novo coronavírus levou as mais de 700 mortes por dia na Itália que o ocidente se viu ameaçado. O primeiro caso de Covid-19 na Itália foi confirmado em 31 de Janeiro, 29 dias antes do primeiro caso no Brasil. 29 dias tivemos para acompanhar a evolução do vírus num país democrático ocidental, 29 dias tivemos de chance para nos preparar contra esse inimigo invisível, mas, infelizmente, não tínhamos e não temos ainda uma fórmula ideal para o combate dessa pandemia (mas num país em que nem se tem Ministro da Saúde, o que se esperaria?). Nesta segunda, 29 de Junho, o mundo conta com mais de 10 milhões de casos confirmados e mais de 500 mil óbitos. Desses números, no Brasil, atual segundo país com mais casos, atrás dos EUA, são mais de 1,1 milhão de casos confirmados e 53 mil óbitos após 124 dias desde a primeiro infectado no país, sem contar a enorme subnotificação. É com pesar que os brasileiros observam o número de novos casos crescer sem uma previsão de queda. Afinal, no que os outros países acertaram? O que devemos, ou deveríamos, ter tomado como exemplo?
        Para termos uma pequena ideia, nós da Equipe do Jornal A Matéria decidimos entrevistar pessoas que moram em outros lugares no mundo para que pudéssemos trazer para você, leitor/a, um pouco de como foram as medidas tomadas pelos respectivos governos, como foi o comportamento da população próxima e dos próprios entrevistados em relação a essas medidas, como funcionou o ofício de cada um deles e, por fim, como está sendo voltar ao novo normal, nas práticas e no psicológico de cada um. Foram entrevistadas 5 pessoas em diferentes lugares do mundo: Matheus (especialista em operações na Bloomberg, Nova Iorque, EUA), Maria (estagiária no departamento de soldagem no estado sólido no Helmholtz Zentrum Geesthacht, Geesthacht, Alemanha), Victória (estagiária no departamento de compras na Eberspächer, Renningen, Alemanha), Leonardo (estudante na Universidade Grenoble-Alpes, Grenoble, França) e Miriam (estudante na Universidade de Osaka, Osaka, Japão). Todos eles deram suas impressões sobre o momento e falaram sobre o que vivenciaram. Sendo assim, suas respostas não devem ser generalizadas, mas podem trazer um pouco das diferentes formas de como o mundo encarou e encara a pandemia.
        Em geral, todos/as os/as entrevistados/as passaram o período de isolamento em suas moradias (sejam elas particulares ou compartilhadas), então tinham contato apenas com quem frequentava os locais comuns. Além disso, algo recorrente foi que a maioria estava iniciando ou finalizando seu ofício de forma que não cogitaram voltar ao Brasil, muitos com medo de não conseguirem retornar depois, por conta das fronteiras fechadas, ou simplesmente pelo fato de terem acabado de chegar ao local onde residem para trabalhar ou estudar.
        O que foi comum aos países - diferenciando nas datas - foi a atuação maciça do governo fechando os estabelecimentos e transporte público. No caso da França, houve “lockdown” e aplicação de multas para quem furasse o isolamento, sendo que era necessário uma atestação com justificativa de estar na rua, junto a um comprovante de endereço. Já no caso da Alemanha, as medidas foram menos restritivas, por conta da enorme capacidade de testagem do país. Com isso foi possível monitorar os contaminados e isolá-los, tanto que ambas as entrevistadas mantiveram o trabalho presencial: “Eu não parei de trabalhar, apenas os grupos de risco. Era pedido pra ficar em casa quem pudesse, mas quem não pode, foi trabalhar”, relata Maria.
        “Minha percepção era de fim do mundo. Cheguei dia 9 de março para o novo emprego e, por estar de mudança, precisava comprar praticamente tudo. Quando ia ao mercado, as prateleiras estavam vazias e ele lotado”, declara Matheus, no então epicentro estadunidense da epidemia. Através dos relatos, percebe-se que onde houve medidas mais restritivas, também ocorreu um maior respeito ao isolamento, com menos pessoas na rua, maior distanciamento social e uso de máscara. Talvez isso se dê pelo alarde causado devido ao crescimento desenfreado do número de pessoas que perderam a vida ou foram contaminadas. E é um exemplo claro de como é necessário um poder que centralize as medidas e governe para a população, no lugar de um desgoverno que prefere fantasiar teorias de conspiração, forjar dados - ou até títulos do Currículo Lattes -, como o presidente dos Estados Unidos, seu pet(residente) brasileiro e outros da política brasileira.
        Com o tempo, as medidas tomadas por cada governo se mostraram eficazes e as respectivas populações puderam respirar um pouco mais aliviadas com o controle da taxa de transmissão e a redução do número de novos casos diários. Iniciou-se uma nova etapa que consiste na tão sonhada flexibilização do distanciamento social e na volta ao “normal”. O uso de máscaras, a higienização das mãos e a restrição do número máximo de pessoas em locais fechados são precauções que fazem parte desse novo normal. Apesar disso, os entrevistados disseram haver bastante desrespeito às medidas, principalmente na Alemanha onde a situação foi menos crítica, como Victória nos conta: “Hoje academias, bares, etc estão abertos com algumas medidas de restrição (como álcool e distanciamento), mas parece que as pessoas estão seguindo vida normal”. Por outro lado, no Japão o novo normal não é tanta novidade, Miriam relata que “aqui no Japão eles já fazem tudo isso naturalmente, já naturalmente usam máscara, passam álcool em gel, mantêm distanciamento social. Estou saindo nas ruas, mas parece que está sendo normal, como se nada tivesse acontecido”. Certamente o fator cultural, esses hábitos e a disciplina já enraizados na cultura japonesa influenciaram fortemente no combate à pandemia no país oriental.
        Entretanto, as marcas deixadas pela Covid-19 são várias. Mesmo com a flexibilização e uma certa sensação de segurança, “é estranho ir aos lugares e ver a quantidade de pessoas. Tenho realmente receio”, diz Leonardo ao sair pelas ruas de Grenoble, e Miriam também admitiu: “Só que é meio doido, quando você sai e volta pra casa você fica extremamente preocupada, afeta muito o psicológico.”
        Talvez a verdadeira tranquilidade só venha de fato com a tão esperada vacina ou um tratamento eficiente. E, por mais que tenham muitos estudos já avançados, o tempo é uma variável muito influente e, junto dele, se vão vidas. É importante sempre lembrar que é necessário tomar todas as medidas de precaução, manter o isolamento social quando possível e, claro, respeitar todos/as que estão lutando para que os efeitos desta pandemia seja muito inferior ao que já poderia ter sido - ou ao que ainda pode ser. E nós obviamente excluímos disso o Presidente Jair Bolsonaro e seu Ministro da Saúde (o qual já se excluiu por si só), mas exaltamos todos/as os/as profissionais de saúde, pesquisadores/as e líderes que souberam atuar da melhor forma, mesmo que não tenha sido perfeita, uma vez que nada a é.


Referências:
https://www.who.int/…/de…/27-04-2020-who-timeline---covid-19
https://www.estadao.com.br/…/saude,mapas-e-graficos-mostram…