Materiais Inovadores: Biovidro F18

Materiais Inovadores: Biovidro F18

        Todos nós sabemos do enorme potencial inovador da Engenharia de Materiais. O desenvolvimento de novos materiais, a possibilidade de melhorar aqueles já existentes, de gerar produtos e aplicações novas, tudo isto faz com que esta engenharia seja capaz de trazer enormes mudanças e avanços em nossa sociedade. Mas será que nós conhecemos alguns desses novos e inovadores materiais? Pensando nisso, o Jornal A Matéria inicia hoje sua nova sequência de conteúdos, “Materiais Inovadores”, em que traremos, todo mês, uma inovação, uma novidade dentro da engenharia de materiais, seja ela um novo material, ou um material com grande potencial e grande importância ou algum novo assunto de interesse. Para iniciarmos então, trazemos um texto sobre o Biovidro F18.

        Biovidro F18

        Biovidros são materiais vítreos que apresentam a capacidade de regenerar, tratar e substituir tecidos vivos. Por este motivo, são materiais extremamente interessantes dentro da área médica, pois, ao acelerar a regeneração de vários tipos de tecidos, podem ser utilizados para tratar fraturas ósseas, feridas na pele, problemas em cartilagens e também no esmalte e dentina dos dentes, além de outras diversas aplicações, sem que ocorra a rejeição por parte do organismo vivo.
O primeiro biovidro foi desenvolvido por volta de 1970 por Larry Hench, e foi denominado Bioglass 45S5. Até hoje, este é um dos vidros bioativos com maior capacidade de regeneração e ligação com tecidos vivos, sendo extenso alvo de pesquisas. Porém, apresenta algumas limitações: além de apresentar baixa resistência mecânica, apresenta elevada tendência a cristalizar, o que impede a fabricação de peças em 3D, fibras e também scaffolds.
        Nesse contexto, pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolveram uma nova composição de vidro bioativo, com reduzida tendência à cristalização e elevada bioatividade, que, então, pode ser obtido em diversas formas diferentes e aplicado como agente de regeneração tecidual nas mais diversas aplicações. Esta nova composição, denominada F18, foi desenvolvida no âmbito do Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação em Vidros (CeRTEV), e possibilitou a abertura de uma empresa, a Vetra, formada por ex-alunos do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar*, envolvidos no desenvolvimento deste material, além de duas patentes.
De acordo com Marina Trevelin Souza, sócia fundadora da Vetra e pesquisadora envolvida no desenvolvimento da nova composição, o biovidro F18 representa uma nova geração de biomateriais, com eficiência na regeneração de tecidos maximizada. A nova composição é osteoindutora (ou seja, estimula a proliferação de células ósseas), totalmente reabsorvível e tem propriedade angiogênica (colabora com a formação de novos vasos sanguíneos). Além disso, a atividade bactericida do F18 também foi comprovada, demonstrando elevada capacidade de eliminar bactérias, próxima de 100%, mesmo aquelas que não eram eliminadas por outros materiais bactericidas.
        Com relação aos usos deste material inovador, diversas opções são estudadas. Uma importante forma de uso, que, inclusive, está relacionada a uma das tecnologias licenciadas para a Vetra, consiste em realizar recobrimentos de próteses ortopédicas e odontológicas metálicas ou cerâmicas com o biovidro. O processo, denominado de biofuncionalização pela empresa, acelera o processo de osteointegração e previne infecções, além de não comprometer as propriedades do material do implante. Outro uso importante é na fabricação de fibras de vidro bioativas: uma vez que o material apresenta baixa tendência a cristalizar, esse processo torna-se viável, e já foi aplicado na obtenção de mantas flexíveis formadas a partir das fibras, capazes de facilitar a cicatrização de feridas. Por fim, outro importante exemplo de utilização desta nova composição está na fabricação de biocompósitos, promovendo a incorporação do biovidro a biopolímeros como o colágeno, visando a regeneração de tecidos moles.

*Ex-alunos e sócios-fundadores da empresa Vetra: Marina Trevelin Souza, Murilo Camuri Crovace e Clever Ricardo Chinaglia.
*As pesquisas foram desenvolvidas principalmente no Laboratório de Materiais Vítreos (LaMaV), sob orientação do professor Edgar Dutra Zanotto.

Quer saber mais? Algumas leituras:
Implante com Biovidro - https://revistapesquisa.fapesp.br/implante-com-biovidro/
Novo biovidro reduz risco de falhas e implantes de titânio - https://www.em.com.br/…/novo-biovidro-reduz-risco-de-falhas…
Avaliação da Atividade Bactericida do Biovidro F18 e F18 com prata para Aplicações Médicas – dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Federal de São Carlos, por Lidiani Aparecida Campanini. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/7319
Cientistas da UFScar desenvolvem biovidro que cura feridas de pele (vídeo e matéria) - http://g1.globo.com/…/cientistas-da-ufscar-desenvolvem-biov…