Materiais aplicados na evolução do esporte

Materiais aplicados na evolução do esporte

        Em competições esportivas cada movimento é importante e um milésimo de segundo é o diferencial entre estar ou não entre os melhores, por isso, cada vez mais os atletas procuram maneiras de otimizar seu rendimento seja na quadra, no campo, na piscina ou na pista. A tecnologia é uma grande aliada dos esportistas e a engenharia de materiais se torna uma ferramenta fundamental na busca da melhor execução de cada esporte e está presente nos mais diversos tipos de aparatos esportivos, desde trajes, tênis até equipamentos como varas, tacos e raquetes. O desenvolvimento e melhoramento de materiais esportivos alia a busca de uma melhor performance, mais segurança e mais conforto e pode chegar a um nível tão alto que alguns materiais chegam a ser proibidos em algumas competições oficiais. Você já parou para pensar no quanto os esportes mudaram com o avanço da tecnologia dos materiais?
        A natação é um esporte que vem se reinventando cada vez mais no que diz respeito a tecnologia, as sungas e maiôs convencionais a muito não são mais utilizadas em grandes campeonatos. Os trajes de natação são pensados para diminuir o arrasto, melhorar a eficiência de oxigênio, ajudar na circulação do nadador através da compressão e são feitos de materiais hidrofóbicos de maneira a não adicionar peso extra pela absorção de água e assim reduzir cada vez mais o tempo de prova do atleta. A Speedo foi a marca pioneira no desenvolvimento de trajes “high tech” para natação e desenvolveu a primeira vestimenta inspirada em pele de tubarão, para isso a equipe contava inclusive com biólogos. O tubarão é conhecido por ser o animal aquático mais veloz da natureza e isso se deve em grande parte a sua hidrodinâmica e sua pele que diminui o atrito com a água e facilita o nado, a ideia da empresa era reproduzir essas condições em um traje que ficou conhecido como “shark skin”. O tecido dessa vestimenta é confeccionado com 75% de microfilamentos de poliéster e 25% de fios de elastano e possui fissuras parecidas com aerofólios em formato de “V” que facilitam a circulação da água e diminuem o atrito, a roupa foi pensada também para comprimir mais os grupos musculares dos atletas e melhorar a circulação sanguínea otimizando o gasto de energia durante a atividade. A estreia do traje em uma grande competição aconteceu nas Olimpíadas de Sidney no ano de 2000 e atualmente a versão de corpo inteiro e de calça não são permitidas na competição.
        O futebol é sem dúvidas uma paixão nacional e também faz usos de diversas tecnologias, não só nos uniformes e chuteiras como também na bola. Você já imaginou jogar uma partida de futebol com uma bola que pesa quase um quilo e com chuteiras que tivessem o mesmo peso? Certamente seria muito mais difícil obter bons resultados nessas condições se comparado a prática do esporte com os equipamentos atuais. O uniforme usado pela Seleção Brasileira na década de 1980 também era bem mais pesado que o atual, a camiseta era confeccionada em algodão e pesava cerca de 350 gramas, quase o dobro do peso das camisetas atuais, que têm 188 gramas aproximadamente, e são confeccionadas em poliéster, não contam com fios nas costuras e sim cola, a fim de diminuir ainda mais o peso da peça, além de mais leves ajudam a absorver e secar o suor com rapidez e ainda se adaptam ao corpo do atleta. Quanto às chuteiras elas eram antes confeccionadas em madeira e couro e cada pé chegava a pesar 550 gramas, mais de um quilo o par! Além de não serem nada confortáveis, as chuteiras eram um dos fatores que colaboravam para um maior peso do atleta e um jogo menos rápido e dinâmico do que podemos ver nos dias atuais, além de não serem pensadas para evitar lesões. Atualmente as chuteiras são bem mais confortáveis e seguras e têm travas de materiais mais duros, existem até modelos que se adaptam às condições do gramado. A bola não é mais fabricada em couro e não conta com costuras, o que diminuiu consideravelmente seu peso, o couro foi substituído por plástico e as costuras deram lugar à fixação térmica, além disso a bola passou a ter menos gomos, com isso o tamanho e pressão da bola foram se alterando ao longo tempo, sem falar no peso que não passa hoje de 450 gramas. Uma curiosidade para os amantes do futebol e da engenharia de materiais é que a camisa usada pela Seleção Brasileira na copa de 2010 foi fabricada usando 100% de materiais recicláveis.
        As paraolimpíadas aconteceram recentemente em Tóquio e em alguns esportes os atletas utilizam cadeiras de roda que também são dotadas de tecnologia para melhorar seu desempenho. É importante entender que a depender do esporte as cadeiras de roda possuem diversas características diferentes, mas reduzir o peso é algo desejável em todos eles, por isso as cadeiras de roda de alta performance são fabricadas em materiais leves como alumínio, titânio e principalmente fibra de carbono. Em esportes nos quais os atletas mantém as mãos ocupadas, como basquete e rugby, e podem ocorrer colisões as cadeiras são pensadas para não caírem e dessa forma preservar a integridade física dos competidores, por isso cadeiras para esses esportes contam com rodas abauladas na parte traseira, essa inclinação também evita que o atleta machuque as mãos em uma colisão lateral. As cadeiras de roda usadas no basquete contém ainda uma quinta roda, localizada na parte traseira, isso ocorre pois o esporte exige muita velocidade e rotações. No rugby as alterações são ainda maiores, por ser um esporte de contato intenso as cadeiras possuem até para choque, para jogadores da defesa eles se localizam na frente e nas laterais, já para os atacantes somente na parte frontal, os atacantes contam também com uma cadeira mais leve e veloz enquanto que os defensores contam com ganchos nas cadeiras para segurar os adversários. As cadeiras usadas no atletismo precisam ser leves e ter uma boa aerodinâmica, elas tem um formato que lembra um triciclo e andam em linha reta. Esses são apenas alguns exemplos de modificações em cadeiras de rodas específicas para esportes de alta performance, como foi salientado anteriormente, para cada esporte existem modificações e regras específicas, sendo que em alguns deles o atleta pode utilizar até mesmo sua cadeira convencional, mas já pudemos ver um pouco mais sobre como a tecnologia pode melhorar o desempenho dos atletas em diversos esportes.
        Ademais, a tecnologia dos materiais esportivos também está presente nos novos modelos de calçados desenvolvidos especialmente para as corridas. Dentre as novidades, estava o tênis da Nike chamado “Vaporfly”, o qual quase foi banido dos jogos, mais especificamente das maratonas, devido às polêmicas envolvidas, tais quais ameaçavam a equidade da competição caso algum corredor utilizasse o modelo. A partir de estudos e resultados laboratoriais, pode-se afirmar que a inovação do tênis permite que o corredor tenha mais vantagens — haja visto que o último recordista mundial das maratonas usava o tênis. Contudo,queremos explicar o porquê disso: o material que o compõe, apesar de espesso, é leve e arejado, o que permite obter o benefício do amortecimento durante a performance, sem que o peso corporal comprometa o competidor. Internamente e quando comparado à modelos de tênis anteriores, é possível perceber que o antepé e o calcanhar do Vaporfly não só é mais espesso e com uma maior quantidade de espuma, como também constituído com uma placa de fibra de carbono, visível através de uma linha preta no modelo, responsável por configurar um maior endurecimento e rigidez ao sapato. Para os conhecedores, é fato que a maioria dos calçados de corrida possuem um agente de endurecimento, mas no Vaporfly isto dá-se de maneira diferente, uma vez que a fibra em questão estende as forças agentes para que se tenha uma concentração da mesma nas pontas dos dedos, ou seja, no momento que o indivíduo desce os pés na aterrissagem. Somado a isto, a fibra é uma linha curvada ao longo do tênis, fazendo com que o mesmo seja rígido e flexível de forma mais intensa e uniforme,o que também é um diferencial quando comparamos aos outros tênis. Ademais, a espuma que forma as solas do tênis é extremamente macia e comprime-se facilmente, ao mesmo tempo que retorna rapidamente à sua forma, mantendo a qualidade do próximo passo sem que o seu amortecimento seja prejudicado. Por último, a extrema qualidade da composição deste sapato também pôde ser observada em testes de laboratórios, em que a ativação muscular na performance com o uso do Superfly foi consideravelmente menor em referência aos outros calçados, produzindo o menor uso de energia em uma velocidade X durante uma maratona, juntamente ao fato de ter um menor contato com o solo. Portanto, foi comprovado que a inovação da Nike,além de fazer com que sua energia do competidor seja mantida por mais tempo,também permite que a sua passada seja mais rápida, acarretando em vantagens em uma maratona,por exemplo.
        Ainda no universo das corridas, temos como forma de representação dos jogos paraolímpicos as próteses esportivas. Existem dois tipos de próteses: o “Joelho social”, utilizado para atividades diárias, como por exemplo academia, subir escadas, pedalar, entre outros. E também, a prótese esportiva, que possui foco em esportes os quais exigem alta performance, como nas corridas, em que o joelho da prótese não possui freio, uma vez que a atividade exige tanto um movimento quanto uma resposta rápida. Além disso, as próteses consideradas mais bem sucedidas, desenvolvidas pelo americano Van Phillipis, são compostas por fibras de carbono grafite, onde formam fios que simulam os ligamentos humanos, sendo assim flexíveis e com a característica de poder armazenar energia - uma vez que o carbono é caracterizado por absorver a mesma. Além do mais, o modelo curvo possibilita a intensidade do arranque e sua impulsão, bem como a economia de energia, fazendo com que o esporte possa alcançar as pessoas da forma mais igualitária possível.

Fontes:
https://www.proswimwear.pt/blog/trajes-tecnologicos-podem-torna-lo-mais-rapido-pt/
https://www.oarquivo.com.br/variedades/ciencia-e-tecnologia/2504-pele-de-tubarao-shark-skin.html
http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/04/avancos-tecnologicos-provocam-mudancas-positivas-no-futebol.html
https://www.tecmundo.com.br/futebol/3740-tecnologia-no-futebol-nova-camisa-da-selecao-bolas-que-mudam-de-cor-e-ate-chuteiras-autoadptaveis.htm
http://blog.pradoeciatoledo.com.br/2018/05/29/cadeiras-de-rodas-de-alta-performance/
https://www.cpb.org.br/noticia/detalhe/3066/conheca-os-tipos-de-cadeiras-de-rodas-utilizadas-no-esporte-paralimpico
https://www.youtube.com/watch?v=Vi3QzA-h1Rs
https://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL688303-6174,00-VEJA+COMO+FUNCIONA+A+PROTESE+FEITA+DE+FIBRA+DE+CARBONO.html
https://www.cpb.org.br/noticia/detalhe/3012/entenda-como-funcionam-as-proteses-no-esporte-paralimpico