[LINHA DO TEMPO DEMa-Ex] - NIT

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NIT Materiais 

Vinte e quatro de agosto de 1995. Essa é a data que marca o início das atividades do NIT/Materiais - Núcleo de Informação Tecnológica em Materiais. Inaugurado como um laboratório especial do DEMa, o principal objetivo do Núcleo era atuar em atividades extensionistas junto a pequenas, médias e grandes empresas, além da sociedade como um todo. Atualmente, o NIT/Materiais desempenha importantes funções dentro de sua área de atuação, especialmente na realização de estudos prospectivos e diagnósticos tecnológicos, na concepção e gestão de eventos, e na oferta de cursos e treinamentos, além do apoio à implementação de outros núcleos de inovação tecnológica pelo país. Nesse sentido, o Jornal A Matéria, em parceria com a DEMaEx, traz um passeio pela jornada do NIT/Materiais, mais um protagonista da história de nosso Departamento, narrado sob a ótica dos professores José Angelo Gregolin, um dos responsáveis pela fundação do Núcleo, e também dos professores Leandro Innocentini e Daniel Leiva - atuais coordenadores executivo e institucional do NIT, respectivamente. 

De início, o professor Gregolin relembra que uma atuação mais abrangente junto à sociedade era uma preocupação dos chefes de Departamento à época, já que o DEMa recebeu grande apoio para sua criação, mas alguns aspectos já se encontravam obsoletos, especialmente a visão da relação da universidade com a indústria: “Na época, havia uma visão muito purista e complicada de que interagir com empresas era um desvio da função da universidade, mas nós já enxergávamos que um curso de engenharia necessita dessa interação. Lembro-me que o estágio era bem aceito, mas as atividades que iam além disso não eram muito bem vistas”.  O professor explica que, assim como o CCDM, o NIT/Materiais foi criado como um laboratório especial do Departamento, e esse nome era em grande parte devido à necessidade de buscar novos caminhos para fazê-los funcionar. Justamente nessa época surgiram grandes projetos em Brasília que tinham interesse nessa área de laboratórios especiais, e, principalmente, na área de Informação: “Foi justamente a ideia do uso da Engenharia de Materiais prestando serviços à sociedade em geral, que alavancou a ideia da criação do Núcleo. Tínhamos uma parceria com a Engenharia de Produção, e, junto com um assessor externo, Paulo Baltazar, que fora funcionário da FIESP, essa equipe planejou todo o projeto. Eu iniciei como coordenador, e o professor José Carlos de Toledo o vice, mas como precisávamos de alguém com mais experiência, o primeiro coordenador executivo do Núcleo foi o professor José Octavio Paschoal. Depois, o professor Sebastião Cury assumiu, e então eu, seguido pela professora Wanda Hoffmann. Eu assumi novamente e depois o professor Leandro e o professor Leiva se tornaram os responsáveis. Para minha alegria, o NIT continua firme e forte, e as novas gerações estão chegando para contribuir”.

Gregolin ressalta que trabalhar com Informação não é uma tarefa simples. Ele comenta que, no início, tiveram bons treinamentos com instituições da Dinamarca, França, e México, e, quando o NIT nasceu, ele se integrou a uma rede de núcleos nacionais, especialmente em função das demandas do país todo e também com o intuito de fazer um intercâmbio de conhecimento e treinamentos, que fortaleceram enormemente esse espírito de rede. 

O professor Leandro relembra que sua participação no NIT se iniciou logo no mestrado, quando foi orientado por Gregolin. Para ele, a grande ideia com a criação do Núcleo - e de tantos outros que se espalharam pelo país - era o apoio às indústrias no Brasil: “Ninguém era muito craque nesse apoio, até então. Foi assim que foram percebendo que era preciso um mecanismo que fomentasse a competitividade entre as empresas no país, criando unidades cuja especialidade fosse fazer isso através do uso do conhecimento gerado pelas universidades ou por institutos de pesquisa e que fosse levado até às indústrias”.

Nesse cenário, Gregolin comenta que, no início, as principais atividades do Núcleo eram voltadas a problemáticas de “chão de fábrica”, como problemas de custo, sistemas de qualidade e também a parte técnica de engenharia de materiais. Ainda relembra sobre a necessidade que se tinha de sistematizar essas atividades, com a intenção de resolver problemas dentro do setor produtivo das indústrias. Desde aquela época, havia o objetivo de desenvolver recursos humanos, além de capacitar Engenheiros de Materiais, desde a graduação até a pós-graduação. Depois, com o tempo, foi preciso compreender mais a respeito de processos gerenciais para resolver problemas industriais mais estratégicos e desenvolveram técnicas de reflexão estratégica e inteligência competitiva, além de análise de informações: “Esse foi um segundo momento que o NIT/Materiais precisou se aprimorar para também atender as demandas que existiam, principalmente quando se tratavam de grandes empresas e instituições. Hoje, temos uma atividade expressiva em desenvolvimento de indicadores de ciência e tecnologia, a partir de patentes, colaborando para que empresas possam monitorar certas tecnologias. Gosto de citar um aluno de doutorado, chamado Douglas Milanez, orientado por nós que desenvolveu uma metodologia de análise de patentes a partir de textos livres de partes dessas patentes, e, em seu estágio na Holanda, ficaram realmente impressionados.  A gente foi evoluindo do trabalho extensionista de ‘chão de fábrica’ até atingir o nível mais criterioso de estar inserido em decisões estratégicas”. O professor ainda acrescenta que o NIT participou da criação da área de desenvolvimento tecnológico do PPGCEM e, mais recentemente, contribuiu com a criação dos programas de pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PPGCTS) e em Ciência da Informação, o PPGCI. Atualmente, para a realização de suas atividades, o NIT conta com a atuação constante dos docentes Leandro, Daniel e também Roniberto do Amaral - do Departamento de Ciência da Informação - além da contribuição de professores como Tomaz Ishikawa, Wanda Hoffmann, Luciana Gracioso e muitos outros, de acordo com a pertinência de seu conhecimento para projetos específicos. Para Gregolin, a interdisciplinaridade é fundamental, e o Núcleo trabalha profundamente nisso, já que consegue aglutinar uma área puramente científica, aprofundando-se num problema específico de forma a atacar problemas reais. 

No âmbito da pesquisa, os professores comentam como o NIT/Materiais se torna parte do trabalho de diversos mestrandos, doutorandos e alunos de Iniciação Científica que fazem pesquisas em materiais voltadas ao uso de metodologias do Núcleo e que são orientados por docentes que trabalham lá. Há, também, pesquisas na área da informação, que envolvem principalmente o trabalho com patentes – que é de grande importância para o trabalho com empresas, no sentido de lhes informar sobre seus concorrentes e sobre as novas tecnologias que vêm sendo desenvolvidas em suas áreas de atuação – e artigos científicos, como, por exemplo, um projeto de extensão que realizaram para o DEMa, no qual analisam os trabalhos em pesquisa produzida pelo departamento de modo a determinar, através de uma série de indicadores de ciência e tecnologia, quais as áreas de pesquisa mais proeminentes, quais ainda não foram exploradas tão a fundo ou oportunidades de parcerias. Ademais, o NIT tem grande preocupação com ensino, tendo criado no PPGCEM toda uma linha de pesquisa voltada para o ensino em Engenharia de Materiais. O professor Leiva comenta, em sua entrevista para o Jornal A Matéria: "Já tivemos dois mestrados concluídos nessa linha de pesquisa. O primeiro deles, que foi o mestrado do Leonardo Marcos, foi bem bacana. Ele está fazendo doutorado nos Estados Unidos agora, dando sequência, também na área de educação em engenharia. O segundo, que é o Humberto Dias, está no doutorado com a gente, no PPGCEM." 

Daniel Leiva ainda disserta sobre o destaque do laboratório: “Centros de informações são comuns, porém não conheço no Brasil um Núcleo de Informações que utiliza do manejo informacional na área de materiais como fazemos, pelo menos não com a mesma profundidade e variedade, no mundo isso também é muito raro. Alunos que fizeram graduação sanduíche ou que foram fazer visitas a respeito dos seus projetos receberam essa devolutiva”. E justamente por isso que na opinião dele devemos valorizar o laboratório, assim como toda a estrutura do departamento. Temos muitos grupos de excelência em várias áreas no DEMa, e essa área de informação tecnológica em materiais é uma riqueza muito grande. Por isso, dar continuidade a tudo isso, como eu e o Leandro estamos dando depois que o professor Gregolin se aposentou, é fundamental tanto ao departamento quanto à própria engenharia de materiais”.

Segundo os professores, com o passar dos anos houve algumas mudanças de âmbito governamental e a verba destinada ao Núcleo foi diminuindo, ao mesmo passo que outras entidades, com objetivos semelhantes, mas com nomes distintos, foram sendo criadas. Segundo o professor Leandro, para compensar essa falta de recursos, acaba havendo um esforço muito grande dos professores que se responsabilizam pelo contato com as empresas: "[...] Trabalhar com atividades de extensão para a Universidade, muitas vezes, significa ter trabalho dobrado. As atividades extraclasse, muitas vezes, são pouco valorizadas, mas trazem um benefício enorme para sociedade”. O professor reitera que, devido ao grande impacto positivo que atividades como as exercidas pelo NIT causam dentro e fora da Universidade, elas deveriam receber um apoio financeiro mais sistemático e contínuo. O professor Gregolin completa dizendo que, por conta da falta de recursos, algumas mudanças tiveram que ser feitas na equipe. A adaptação para atuação com recursos mais escassos também alterou a forma de atuação do Núcleo, que precisou diminuir o número e o perfil de projetos: "Passamos a fazer mais estudos com componente de análise estratégica  e menos resolução de questões técnicas ou de gestão", diz o professor.

O professor Leandro nos conta um pouco sobre alguns dos projetos que estão sendo realizados atualmente pelo NIT, e afirma que “o professor Roniberto do Amaral está em um projeto conjunto entre a UFSCar, UNIFESP e UFABC a fim de dar visibilidade aos resultados de pesquisas dessas universidades, extraindo dados de suas plataformas Lattes e tornando-os públicos e, ao mesmo tempo, mostrando alguns indicadores de quais são as áreas em que as universidades, em questão, estão fazendo pesquisas e quais seus pontos mais fortes”. Leandro explica que antes de submeter um projeto ao pedido de patente existe uma fase de busca de anterioridade, para saber se a tecnologia desenvolvida é de fato algo novo e com aplicação na indústria. Segundo ele, existe ainda uma dificuldade no que diz respeito a essa etapa, já que são necessários elementos mais completos para que seja feita essa avaliação, e, nesse sentido, uma aluna ligada ao Núcleo trabalha justamente no aprimoramento da busca de anterioridade na universidade. Existem, também, projetos voltados ao levantamento de dados sobre o ensino de Engenharia de Materiais nas universidades brasileiras, que são conduzidos pelo professor Daniel Leiva. O professor diz que existem projetos ligados diretamente a empresas, a respeito dos quais ele não pode dar muitos detalhes devido a proteção do sigilo, em favor dos interesses dessas empresas. Leandro cita o projeto de análise de patentes para monitorar tecnologias de eletrodomésticos de linha branca, como um exemplo de atividade desenvolvida pelo NIT: “Nossa parceria era com a Whirpool. Fizemos um levantamento de patentes do mundo todo. As empresas conhecem muito bem o que os clientes esperam dos produtos delas. E então param pra pensar ‘o que os concorrentes desenvolveram para ter esses atributos?’ ”. O professor também comenta o interesse que se tinha em descobrir essas patentes, que poderiam servir de inspiração para eles: “[...] Avaliamos como estavam os concorrentes e quem era o mais forte nesses atributos. Esses tipos de informações eram coletadas nesse estudo”. 

Ao serem questionados sobre acontecimentos marcantes na trajetória de quase trinta anos do Núcleo de Informação Tecnológica, os professores Gregolin, Leandro e Leiva relembram alguns fatos. Segundo o professor Gregolin, um evento que ele considera de muita importância foi um convênio que durou seis anos em parceria com a Suframa - Superintendência da Zona Franca de Manaus, e durante esse projeto foi mobilizada uma equipe grande do Núcleo que pôde atuar de formas que iam até além das que são normalmente praticadas nos projetos, e, segundo o professor, essa foi uma experiência muito rica, em que eles puderam conhecer mais sobre a região Norte e lidar com dificuldades até então não enfrentadas pela equipe. Outra ocasião marcante foi quando participaram da implantação do Núcleo de Inovação Tecnológica do Instituto Mamirauá, na cidade Tefé, também no estado do Amazonas, colaborando também com a criação de um Núcleo de Inovação Tecnológica e com questões envolvendo pedidos de patente e divisão dos royalties gerados por elas. O professor Leandro conta que outros projetos marcantes foram alguns eventos nos quais o NIT esteve envolvido na parte organizacional. Como exemplos o professor cita o 14º CBECIMAT (Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais), que aconteceu entre os dias 03 e 06 de dezembro do ano de 2000, na Cidade de Águas de São Pedro - SP. O professor lembra também que o NIT ajudou na organização e na coordenação do primeiro congresso da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC), o primeiro KM Brasil do qual o professor Gregolin foi co-coordenador. Outros acontecimentos importantes recordados pelos professores foram a criação do PPGCTS - Programa de Pós Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade e a participação no desenvolvimento de indicadores de produção científica e tecnologia da FAPESP: “Nós podemos passar quatros dias falando de momentos importantes, mas eu acredito que esses são uma amostra de coisas maravilhosas que nós tivemos a chance de vivenciar”, nos diz o professor Gregolin. Para Leiva, além dos fatos já citados, vale apontar que é muito marcante a interdisciplinaridade presente no laboratório, pois são muitas áreas envolvidas nos projetos: “Além de profissionais da Ciência da Informação e Engenharia de Materiais, já trabalhei com colegas do Direito, da Engenharia Biomédica e outros”. “No mundo real não há a divisão em caixinhas do que tem de ser feito, ‘isso é do engenheiro, isso do administrador’, o que existe é uma situação complexa que precisa ser abordada com as ferramentas disponíveis. Trazer essa complexidade para o fazer acadêmico é o que faz a interdisciplinaridade, o que é muito rico!”, disserta o docente.

Em relação à importância de uma relação mais próxima entre universidade e indústria, o professor Gregolin afirmou que poderia ser melhor desenvolvida, mas seu crescimento é limitado devido à alta taxa de atividades atribuída aos docentes. Além disso, Gregolin constatou que há uma grande disposição vinda dos professores para auxiliar nesta relação e também existe um interesse por parte das empresas em mapear, analisar e oferecer oportunidades para a universidade. Por fim, ele afirma que a participação dos governos federal e estadual seria de grande importância para uma melhor estruturação dessa relação. De acordo com o professor Leandro, há uma crescente necessidade de desenvolver uma base adicional à graduação conhecida como terceira missão, a qual tem como objetivo causar impactos diretos na sociedade. Ademais, ele questiona se não existem possíveis formas de ajudar, provenientes da universidade, essas empresas no contexto atual. Em seguida, Leandro afirma ser necessário estimular um impacto direto vindo da própria engenharia para aumentar a competitividade e desenvolver novos projetos com as empresas. Para concluir, ele ressalta que atualmente existe um ranking que avalia a atuação da universidade e o desenvolvimento sustentável dentro da sociedade e que há um alto potencial de crescimento para essa relação entre universidade e indústria. Para o professor Leiva, esse tipo de relação é fundamental, deve ocorrer de maneira sinérgica e necessita de um constante desenvolvimento, uma vez que trata-se de um ciclo virtuoso de extrema importância. Além disso, ele reforça que essa proximidade com as empresas possui um valor estratégico, e é essencial, visto que seria possível acompanhar e contribuir para soluções de problemas reais relacionados ao ambiente empresarial. A seguir, Leiva comenta que a Engenharia de Materiais é a “engenharia das engenharias”, ou seja, a Engenharia de Materiais está presente em todas as outras vertentes da engenharia. No contexto do funcionamento das empresas, existem complicações relacionadas a tempo e recursos, por exemplo, que poderiam ser solucionadas caso existisse uma participação maior vinda das universidades, afirma o professor Leiva. Ainda no contexto da criação de soluções para possíveis problemas nas empresas, ele acredita que essas colaborações poderiam ser divididas em diversos níveis, desde a prestação de serviços até a resolução de situações mais pontuais e, inclusive, fornecer contribuições através do ensino e de pesquisas. Por fim, Leiva afirma que, tanto a graduação, quanto a pós graduação possuem lugar de atuação nesse trânsito de interações, e, nesse contexto, com o auxílio do DEMAex, iniciativas como rodas de conversa e TCCs são formas de fortalecer esse contato com os ex-alunos, a fim de estimular ainda mais a interação entre universidade e indústria.

Por fim, os docentes deixam aos leitores e aos alunos conselhos valiosos com as seguintes mensagens: “Procurem se dedicar bastante ao curso e as atividades que realmente trazem benefício para a sociedade e aos colegas, além de atividades que enriqueçam sua experiência como aluno em um espírito mais amplo que apenas a graduação” diz Gregolin; “Além dos conhecimentos técnicos sobre engenharia, é necessário para atuar como engenheiro, saber lidar, acessar e analisar informações, conhecer várias fontes e ferramentas”, aponta Leandro; “A comunicação é fundamental! Vocês desenvolverem esse ‘músculo’ da comunicação como futuros engenheiros e engenheiras vai realmente fazer a diferença”, conclui Leiva.