[DO 14-BIS AOS AVIÕES COMO CONHECEMOS HOJE]

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No início do século XX, a humanidade já havia conquistado, pelo menos em parte,  o sonho de voar. Já fazia aproximadamente duzentos anos que um padre voara com um balão de ar quente, em Lisboa, e um francês voara com um dirigível em Paris, em meados do século XIX. No entanto, essas aeronaves - capazes de se sustentar no ar em função da baixa densidade do gás que preenchia parte de seus interiores - eram muito difíceis ou impossíveis de manobrar, o que mantinha distante o sonho da arte de realizar um vôo realmente controlado, em um veículo mais denso que o ar, como um pássaro: a arte da aviação. Apesar de, muitas vezes, o crédito da criação dessa máquina voadora ser atribuído aos irmãos Wright, nós, brasileiros, sabemos bem que ela foi inventada por Santos Dumont, nascido em Minas Gerais. O mineiro, no dia 12 de novembro de 1906, ganhou o Prêmio Archdeacon e o Prêmio do Aeroclube da França por quebrar o recorde de vôo mais longo, ao voar 220 metros em seu avião, o terceiro 14-Bis – ou como era chamado pelos franceses, o Oiseau de Proie III (ave de rapina). O biplano ainda era muito diferente dos aviões contemporâneos, mas foi sua criação que permitiu ao ser humano, por fim, conquistar os ares.

O 14-Bis tinha asas com estrutura celular, em caixas, apresentando três caixas de cada lado. Possuía 12 metros de envergadura, 10 metros de comprimento e superfície total de 80 m2. Todo o conjunto pesava 210 quilogramas – sendo que 50 quilogramas era o peso do próprio piloto, Santos Dumont. Os lemes de direção e profundidade foram colocados na região frontal da aeronave, diferentemente dos aviões atuais, em que esses componentes se localizam em sua cauda. As asas do 14-Bis ficavam na parte traseira da aeronave, assim como o motor e a hélice. O avião apresentava um longo “pescoço” sustentando os lemes de direção e profundidade, resultando em uma estrutura com o formato de um “T”. Os pés desse “T” constituíam a região da frente da aeronave e na conjunção dos braços do “T”, localizava-se o motor. A estrutura era formada por longarinas de bambu, presas entre si por juntas de alumínio, as superfícies constituídas por seda japonesa envernizada e os comandos dos lemes formados por cabos de aço.

Com o passar do tempo, posteriormente à invenção do 14-Bis os aviões passaram por inúmeras modificações e, atualmente, podem ser classificados pelo número de asas, sendo que em grande maioria eles são monoplanos, ou seja, possuem apenas um par de asas. Um avião moderno é dividido em: estrutura, sistema de motor, mecanismo de voo e instrumentos. A estrutura contém a fuselagem, que é o corpo do avião revestido com alumínio, magnésio, plástico ou fibra de vidro. As asas do avião contém diversas partes móveis, dentre elas podemos citar: "flaps" e "slats", que são responsáveis por aumentar a superfície das asas; os "ailerons", que são partes articuladas que fazem o avião inclinar para os lados; na parte traseira do avião, existe um pequeno par de asas responsável por evitar que o avião balance para cima e para baixo e, além disso, há um leme que serve para subir ou descer a ponta da aeronave. Finalmente, há um estabilizador parecido com uma barbatana que tem como função evitar que o avião balance para os lados.

Os trens de pouso são utilizados para realizar a aterrissagem e são constituídos por pneus e uma estrutura feita para absorver impacto. Em relação ao sistema de motores, este varia de acordo com o tamanho do avião e podem existir motores à pistão e motores à turbina. O motor à pistão realiza a rotação de um eixo que está ligado a uma hélice que fornece a potência necessária para que o avião se movimente. O motor à turbina impulsiona a aeronave ao soltar gases pela parte traseira do avião. Por fim, existem mecanismos e instrumentos criados para auxiliar o piloto a controlar e movimentar o avião como, por exemplo, o manche (ajuste do leme de profundidade e dos "ailerons"), os pedais (controle do leme de estabilização vertical) e o manete (controle do sistema de motores).

É evidente a evolução da aviação desde nossos pioneiros – Santos Dumont e seu 14-Bis, os protagonistas do premiado voo há 115 anos atrás – até a aviação como conhecemos atualmente, cuja técnica já é dominada pelo ser humano. A evolução dos materiais acompanha e auxilia a evolução da aviação, com materiais mais leves e resistentes, abrindo cada vez mais possibilidades de melhoria tanto da indústria aeronáutica, quanto de tantas outras. Ainda assim, é muito interessante observar como Santos Dumont, com materiais tão primitivos, foi capaz de ser o precursor em uma tecnologia imprescindível para a nossa sociedade atual.