Discussões acerca do Ensino Remoto

Discussões acerca do Ensino Remoto


Por Pietro Cazelatto Bortolini ,Eduardo Bouhid Neto e Laís Ronqui de Andrade

        O Jornal A Matéria, em sua função de trazer informação à comunidade e, de maneira imparcial, discorrer sobre temas relevantes para o público, deve se manifestar a respeito de questões pertinentes à realidade do DEMa. Tendo em vista os recentes debates acerca da implementação da modalidade de ensino remoto na UFSCar durante o período de isolamento, nada mais justo do que tornar público o nosso posicionamento acerca desse assunto.
        Na presente semana, passaram-se quatro meses desde a publicação da Portaria GR nº 4370 feita pelo gabinete da reitoria- que determinou a suspensão das atividades curriculares presenciais em todos os campi da UFSCar por duas semanas. Apesar do choque inicial, não demorou muito para que os impactos da Covid-19 no Brasil mostrassem a magnitude do problema e, dessa forma, fez-se necessário o cancelamento do semestre. Em decorrência dos impactos sociais, econômicos e sanitários causados pela pandemia, no mundo todo, é discutido o conceito de “novo normal”. No âmbito da educação, o ensino remoto passou a ser um tema "quente", por ser um método de retomar as atividades das instituições de ensino - além disso, segundo um parecer divulgado pelo CNE, tal modalidade será necessária até 2021, pelo menos.
        Permitido pelo MEC através da portaria nº 544, o ensino remoto tornou-se alvo de discussões não somente no meio do ensino superior, mas em todo o país. Afinal Mas o que seria o ensino remoto, afinal? O ensino remoto é a adaptação de aulas presenciais com a utilização de plataformas digitais (como Google Classroom e Zoom) como uma medida provisória, diferindo-se do ensino à distância (EaD), que é um ensino projetado para ser utilizado em plataformas digitais.
        Assim, diante da pandemia do Covid-19, diversas universidades, públicas e particulares, decidiram aderir ao ensino remoto ou adotar medidas provisórias a fim de não prejudicar a formação de seus estudantes. A Unicamp, por exemplo, disponibilizou duas plataformas, o Moodle e o Google Classroom, para a realização do ensino remoto, deixando o método de avaliação a cargo do professor responsável. Simultaneamente, a Unifei disponibilizou material de apoio aos alunos que não possuem acesso à internet, permitindo que todos os alunos possuam condições de acompanhar as aulas.
        Aqui na federal, o assunto ainda tem futuro incerto. Até agora, sabe-se que o período 2020/1 foi cancelado, o Conselho de Graduação aprovou a suspensão das aulas presenciais em 2020. Entretanto, a adoção das medidas de ensino remoto ainda está em processo de concepção: a UFSCar está estudando os meios para a implantação dessa modalidade de ensino.
        Contudo, a comunidade da UFSCar ainda tem muitas dúvidas e receios acerca da realização do ensino remoto, que por ser algo pouco utilizado na universidade, preocupa tanto os discentes como os docentes. Uma questão que se destaca é a acessibilidade de todos nessa nova modalidade, uma vez que a falta de equipamentos adequados ou problemas de saúde podem afetar severamente a qualidade do ensino e do aprendizado. Segundo uma consulta realizada aos discentes da UFSCar em abril de 2020, 16,9% dos estudantes estão em condições “impeditivas ou precárias” para a participação nas atividades remotas. Como citado, algumas universidades que optaram por seguir com as atividades nesse período disponibilizaram equipamentos e internet para estudantes em situação de vulnerabilidade, viabilizando o ensino remoto de forma inclusiva.
        Porém, ainda restam dúvidas quanto à integridade emocional e física de todos, que, devido a pandemia, têm sido colocadas em xeque. Também é questionada a qualidade do ensino que será ofertado, visto que muitos dos docentes não se sentem preparados para lecionar nesta nova realidade virtual e que algumas disciplinas talvez não caibam neste modelo, além de que, devido à mudança na rotina aliada à necessidade de adaptação aos meios virtuais, existe a possibilidade dos professores sofrerem uma sobrecarga de trabalho. As plataformas que serão utilizadas, as metodologias, as avaliações, os materiais, o número de créditos e até mesmo quais serão as disciplinas oferecidas, são pautas muito importantes e complexas que devem ser debatidas de forma minuciosa.
        É importante lembrar que muitos estudantes alegam ter dificuldades de concentração ao participar de atividades do ensino remoto, que cobram mais foco do aluno. Por conta disso, discentes ou docentes com a saúde mental comprometida em decorrência das circunstâncias atuais estão particularmente expostos às dificuldades da adaptação ao sistema de aulas remotas. Por isso, um aspecto muito debatido na implementação dessa modalidade é a obrigatoriedade ou não da participação nas atividades. A não obrigatoriedade associada à ausência de restrições dos semestres comuns (como a quantidade mínima de créditos, por exemplo) permitiria maiores chances de sucesso para essa parcela estudantil.
        Apresentados os fatos, fica explícita a complexidade do problema, mas nota-se que, ao mesmo tempo, a Universidade tenta tomar as melhores decisões. É fato que o cancelamento das atividades é um transtorno para toda a comunidade acadêmica. O ensino remoto se apresenta-se como uma medida emergencial, que possibilita a continuidade dos estudos pelos discentes em tempos de pandemia. Entretanto, ainda existem pontos - principalmente os que tangem a inclusão de todos os discentes, bem como condições justas de trabalho para os professores - que devem ser contemplados para que tal medida seja implementada na UFSCar de forma condizente com seu lema - “Excelência acadêmica e compromisso social”.