[22ª EDIÇÃO] Pesquisa e Inovação - Professora Silvia Bettini

Pesquisa e Inovação - Silvia
 
Texto por: Augusto da Veiga, Eduardo Bouhid e Lia Rodrigues
Conte um pouco sobre você e sua trajetória.

Sou nascida em Marília/SP, formada em Engenharia Química na Mackenzie, com mestrado em Engenharia Química na Unicamp em degradação química de polímeros e fiz meu doutorado aqui no DEMa com o Prof. Agnelli. Além disso, fiz dois pós-doutorados – o primeiro deles foi aqui na UFSCar, via FAPESP, em que fui orientada pelo Prof. Adhemar Ruvolo. Em seguida, fiz o segundo em uma empresa, na Rhodia, em Paulínia. Depois de certo tempo, percebi que o dia a dia da empresa não era o que eu queria. Fui trabalhar no SENAI e, depois disso, na FEI (Fundação Educacional Inaciana “Padre Sabóia de Medeiros”) – onde atuei com foco em materiais poliméricos na Engenharia Mecânica, passando também por diversas áreas como Matemática, Estatística, Cálculo I, entre outras.

Em 2005, meu vínculo passou a ser em tempo integral na FEI, onde fiquei até 2009, quando passei no concurso na USP e na UFSCar, e acabei escolhendo a última. Já ministrei aulas em diversas disciplinas, como processamento de termoplásticos, processamento de materiais poliméricos, processamento de elastômeros e termofixos, aditivação em polímeros e reologia. Inclusive, não posso deixar de fazer um agradecimento ao professor Agnelli. Desde que cheguei temos uma parceria de aprendizado contínuo com ele e eu acredito muito no aprendizado conjunto, doação de conhecimento e ele sempre foi muito generoso e me ensinou demais.

Qual é o tema de sua linha de pesquisa?

É uma pergunta bastante difícil. Já trabalhei com extrusão reativa no meu doutorado, e é um assunto para o qual recorrentemente costumo voltar, por sua relevância em diversas aplicações. Comecei a trabalhar na FEI com incorporação de farelo de madeira em polímeros (resíduos industriais lignocelulósicos) e a partir disso, o escopo expandiu-se para outros materiais como fibra de coco, sisal e bagaço de laranja aplicados tanto em polímeros convencionais quanto em biodegradáveis. Hoje em dia trabalho muito com polímeros biodegradáveis e seus processos de biodegradação, além da modificação de biodegradáveis para a produção de espumas em substituição ao isopor (Poliestireno expandido) com Espumação de PLA (poliácido lático) com polimerização no estado sólido para conseguir substituir partes do corpo (enxertos) que deveriam ser porosas para o crescimento de células

Qual a motivação para esta pesquisa?

Gosto muito do “link” empresa-universidade. Também gosto de ter um porquê para o que estou fazendo – e a sustentabilidade é um forte motivo nesse âmbito. Além disso, alguns trabalhos foram motivados por demandas de serviços de empresas. Acredito que, dessa forma, podemos criar pesquisas que sejam muito aplicáveis e com grande potencial. 

Quais são os objetivos?

Além dos objetivos de pesquisa, me preocupo com a formação dos meus alunos em bons pesquisadores e com um nível técnico muito bom. Em termos de produto, acredito que polímeros sempre vão ser empregados. Por isso, quero desenvolver algumas opções biodegradáveis (fraldas descartáveis, sacos de lixo) viáveis economicamente – hoje em dia, apesar de haver a viabilidade técnica, o alto valor é um fator que dificulta a aplicação dos materiais biodegradáveis.

Quais as possíveis aplicações?

Gostaria de destacar um trabalho de incorporação de bagaço em polímeros biodegradáveis: separou-se partes o bagaço e, a partir de uma dessas partes, foi possível extrair a pectina e, com isso, incorporou-se 50% desse resíduo em um polímero tradicional. À época, isto não estava descrito na literatura Por isso, patenteamos o processo. E eu acredito que algumas embalagens poderiam ser utilizadas com esses compostos de origens naturais. Ademais, creio que há várias possibilidades de aplicações mais nobres, como liberação de fármacos, próteses, entre outros. Então também é necessário conhecer como se dá a degradação de tais materiais no corpo humano e em outros ambientes.

Existem desafios a serem superados? Se sim, quais?

Além da questão financeira, que citei acima, na área de espumas e de polímeros biodegradáveis expandidos em geral ainda há uma grande dificuldade quanto ao conhecimento reológico – espumar um material não é uma tarefa fácil. Por conta disso, costuma-se fazer modificações químicas (como polimerização no estado sólido ou extrusão reativa) para produzir essas espumas biodegradáveis.

Há vagas de IC para a área? Se sim, existem pré-requisitos?

No momento, por conta do fechamento dos laboratórios, não há vagas disponíveis. Entretanto, assim que houver a retomada das atividades presenciais, eu gostaria de orientar até 2 alunos ou alunas de IC. Caso queira pedir bolsa, o aluno deve atender aos pré-requisitos dos órgãos de fomento. Mas, para mim, o mais importante para mim é ter atitude, comprometimento, querer aprender, ser independente e proativa/o para o aprendizado.