21ª Edição: Projetos de extensão - Desafios e aprendizados

Texto por: Lia Kim, Lívia Pacífico e Vitória Rizzato

21ª Edição: Projetos de extensão

        Universidade. Do dicionário, 1. qualidade ou condição universal; 2. instituição de ensino e pesquisa constituída por um conjunto de faculdades e escolas destinadas a promover a formação profissional e científica de pessoal de nível superior… E por faculdade entende-se “possibilidade, natural ou adquirida, de fazer algo; capacidade” e, oras, em que momento nos dizem que precisamos nos restringir a conteúdos que vão cair na prova ou fórmulas de rodapés? Como podemos inferir da própria definição, estar dentro de uma universidade é, ou deveria ser, pelo menos, muito mais do que apenas aqueles duzentos e tantos créditos obrigatórios da grade curricular. Estar dentro de uma universidade é estar sujeito/a a todo um universo de conhecimentos, pessoas, situações, enfim, oportunidades.
        E, observando por esse aspecto, ao pensar em universidade, não podemos deixar de pensar também nos vários projetos de extensão disponíveis, seja Empresa Júnior, Centro Acadêmico, Enactus, Baja e tantos outros, porque cada um nos convida a encarar situações completamente novas e desafiadoras. Dessa forma, o Jornal recolheu depoimentos de diversos alunos e alunas, em diferentes estágios da graduação, sobre como o envolvimento deles em projetos de extensão contribuiu ou vem contribuindo para suas respectivas formações, tanto no âmbito pessoal, quanto no profissional, e também sobre como foi conciliar com as disciplinas e sobre como cada um foi motivado a fazer parte do projeto.
        Os projetos de extensão nos cativam e nos atraem por nos mostrar oportunidades que muitas vezes não encontramos no dia a dia da sala de aula. Tivemos a chance de conversar com a Nádima, que está no 2º período do curso e, atualmente, exerce o cargo de “Diretora de Gente e Gestão” na Materiais Júnior, do DEMa. Ela nos contou que antes de ter um contato mais próximo com a Materiais Júnior, já possuía um breve conhecimento sobre o que era uma empresa júnior e como ela poderia auxiliar em diversas áreas durante a graduação, inclusive profissionalmente, de modo que conseguiria aplicar na prática todos os conteúdos teóricos estudados durante o curso. Tendo estas motivações em mente, se inscreveu no processo seletivo da empresa e foi aprovada.
        Contudo, como toda e qualquer outra atividade, é necessário que haja organização, foco e até mesmo entusiasmo para prosseguir com todos os “deveres” que virão ao longo do tempo. Tais fatores tornam-se mais complicados, principalmente em meio à pandemia na qual vivenciamos e ao estudo remoto, que exigem uma demanda de energia muito mais elevada para cumprir com todas as tarefas impostas. Assim, Nádima relatou que, para conciliar o projeto juntamente com a faculdade, precisou separar as horas do dia entre os encargos da Materiais Júnior e da graduação, objetivando concluir ambos os afazeres durante a semana.
        A correria do estudante, que precisa entregar várias provas, atividades e estudar a matéria atrasada, não é uma rotina fácil, mas, ainda sim, pode proporcionar muito amadurecimento e aprendizado. Isso também ocorre ao ingressar em um novo projeto de extensão, em que os desafios começam a partir do processo seletivo: no caso da Materiais Júnior, nossa entrevistada nos contou que o processo de avaliação inicia-se a partir de um fit cultural, em que é analisado se os candidatos possuem valores que se alinham aos da empresa. Posteriormente, é realizada uma dinâmica em grupo, na qual são propostos desafios e obstáculos para os candidatos solucionarem. Esta etapa é sucedida por uma entrevista individual com cada participante juntamente com o trainee em que o candidato participa de duas diretorias distintas dentro da empresa, a fim de ao realizar as atividades propostas analisar seu perfil e sua proatividade em cada uma delas. Portanto, podemos analisar que o processo todo é composto por etapas que não só lidam com dificuldades reais, em que os participantes necessitam de desenvoltura para se sair dos problemas impostos, como também com valores e formas pessoais de lidar com as situações do dia a dia.
        Ademais, um assunto pouco relacionado à participação nos projetos de extensão é como eles podem auxiliar no futuro ingresso ao mercado de trabalho e a ensinamentos ligados ao empreendedorismo. A começar do processo seletivo, como já dito anteriormente, que além de ser importante nos quesitos já citados, também é responsável por auxiliar no conhecimento mais aprofundado a respeito do que um processo seletivo espera dos candidatos, fator de extrema importância no futuro, em que conhecer o método avaliativo pode ajudar o/a candidato/a a ingressar em uma determinada empresa. Nádima também nos descreveu que os ingressantes na Materiais Júnior possuem contato com variadas áreas nas quais um/a engenheiro/a de materiais pode atuar, tais como: as interpretações de resultados de ensaios efetuados, a seleção de materiais, o desenvolvimento de produtos e o contato direto com os clientes da empresa. Por fim, o empreendedorismo, em particular, é trabalhado também ao se ter a possibilidade de trabalhar papéis que direcionam a melhor maneira de como se deve liderar um time, bem como mantê-lo disposto a alcançar o propósito dado, aprimorar a comunicação em público, lidar com diferentes personalidades dentro do meio empresarial, etc. Portanto, há uma gama de efeitos positivos que a participação em um projeto de extensão pode proporcionar e até facilitar as experiências futuras após a conclusão da graduação.
        Assim como Nádima, outros/as estudantes de engenharia que estão no começo do curso e sobrecarregados com as disciplinas do ciclo básico já se pegaram pensando: “Mas onde está a engenharia em todas essas fórmulas e cálculos, quando é que eu realmente vou começar a ver isso em prática?” E os projetos de extensão podem ser uma excelente maneira de introduzir o/a estudante à engenharia de fato. Nossa entrevistada Larissa, que está cursando seu último ano na Engenharia de Materiais da UFSCar e faz parte da equipe Dragão Branco Aerodesign, conta que uma das coisas que a motivou a entrar na equipe foi justamente a oportunidade de ver com o que um/a engenheiro/a trabalha de fato, além de que a área da aeronáutica é, para ela, muito interessante. Sobre conciliar as atividades acadêmicas com as reuniões, horas de oficina e competição anual de aerodesign promovida pela SAE, nossa entrevistada fala que o segredo é participar de um projeto que você gosta, pois dessa forma vai ser mais fácil se organizar para conseguir fazer tudo sem se sentir sobrecarregado/a e será possível aproveitar o melhor das duas coisas.
        Camila, que também está no final do curso e realizando um estágio complementar, relata que desenvolveu disciplina e capacidade de definir prioridades, assim como a habilidade de se comunicar com diferentes públicos e gerir equipes ao fazer parte de projetos como Centro Acadêmico, comissão Organizadora do XX CECEMM, Jornal A Matéria e outros. Uma experiência bastante marcante para a entrevistada foi quando ela precisou defender o ponto de vista dos alunos em relação a um assunto bastante delicado numa reunião do CoD, no qual era a representante discente (outra atividade extracurricular). Ela comenta que foi um fato que ajudou a fortalecer sua confiança, competência que a auxilia a enfrentar os desafios do trabalho atualmente. E, lógico, não é fácil, mas apesar da correria para se dedicar às atividades extracurriculares e ao curso, o que fica são as ótimas experiências, Camila nos afirmou: “Garanto que hoje, eu lembro muito mais dos ótimos momentos e experiências que tive nos projetos do que das partes ’ruins’’.
        Assim, ao conversar com pessoas de diferentes idades, em diferentes momentos da vida e da graduação e que participaram de diversos projetos de extensão, nós podemos apontar um aspecto em comum: todas elas afirmam que a experiência vivida nos projetos de extensão possibilitou inúmeros aprendizados. Tanto Larissa, quanto Camila relataram que um dos principais benefícios de participar de projetos de extensão foi a possibilidade de se sentirem mais confiantes, afinal de contas, aprender mais sobre como lidar e se comunicar com pessoas de diferentes personalidades e com os mais diversos tipos de ideias possibilita, não só aprender mais sobre o outro, mas também entender um pouco mais sobre si mesmo, e não há melhor forma de vencer a insegurança se não com o conhecimento.
        Além disso, é importante ressaltar que os projetos de extensão dos quais você participa podem dizer muito sobre o futuro de sua trajetória profissional, e, para falar um pouco mais sobre isso, convidamos o Rômulo, já graduado em Engenharia de Materiais pelo DEMa/UFSCar, criador da equipe de aerodesign Dragão Branco e atualmente Engenheiro de Ensaios da Embraer. Romulo nos contou que cada elemento de sua trajetória acadêmica foi essencial para que ele pudesse ocupar seu cargo atual. Sobre sua participação na equipe Dragão Branco ele afirma: “Participar do Aero, colaborou muito no processo seletivo de estágio na área de aeronáutica. Além disso, tem a experiência com trabalho em equipe, gestão, planejamento, ensaios etc.”.
        Imaginem o desafio de criar um projeto de extensão do zero, ter que cursar disciplinas fora da sua grade curricular e até mesmo em outra universidade, levantar recursos e convencer as pessoas, e por que não você mesmo, a acreditar em um sonho que poderia ou não dar certo. Com certeza é necessário muito empenho para fazer tudo isso acontecer: ser disciplinado, manter o foco, ter perseverança, acreditar na sua capacidade e como nós não conseguimos viver sozinhos, ter a humildade de pedir e aceitar ajuda de pessoas mais experientes. Quando Rômulo teve a ideia de criar a equipe de aerodesign, ele buscou o apoio de professores do departamento, segundo ele, no primeiro ano, praticamente todo o dinheiro para custear o projeto vieram do DEMa e do professor Walter Libardi, e somente depois de alguns anos vieram os patrocínios e a procura de outros alunos interessados no projeto. Além disso, para saber mais sobre como funcionava a criação do projeto, a construção do aeromodelo e a competição da SAE em si, nosso entrevistado entrou em contato com a equipe de aerodesign da EESC - USP e recebeu o suporte que buscava, mostrando que podemos, e devemos, ir além da rivalidade da TUSCA.
        No fim, o que podemos tirar de tudo isso é que não importa se o projeto de extensão do qual você participa vai guiar sua escolha de ocupação, se você vai começar um negócio próprio e se tornar um empreendedor, se vai trabalhar com a profissão na qual se formar ou se vai mudar completamente de carreira, o que importa é aproveitar toda oportunidade de adquirir novas habilidades e conhecimentos, que vão te amparar, em qualquer caminho que você escolha seguir. E, por isso, caros/as leitores/as, aproveitem todas as oportunidades que a universidade tem a oferecer, se dedique em suas disciplinas, participe de projetos de extensão, faça uma iniciação científica, faça novas amizades e crie vínculos com colegas e professores. Afinal de contas, os anos que passamos na universidade vão fazer parte não só de nossa formação profissional, como de nossa formação pessoal, por isso aproveite esse tempo para fazer com que você seja sua melhor versão.

[Texto retirado da 21ª Edição do Jornal A Matéria, disponível em: bit.ly/EdicoesAMateria]