[21ª EDIÇÃO] Entrevista com Fernando Passareli: Da química ao laboratório de polímeros do DEMa.

Entrevista com Fernando Passareli: Da química ao laboratório de polímeros do DEMa

[21ª EDIÇÃO]
Entrevista com Fernando Passareli: Da química ao laboratório de polímeros do DEMa.

Texto por: Livia Pacífico e Kayque Fernando


- Primeiramente, nos conte um pouco sobre você.

        Meu nome é Fernando Passareli, sou natural de Ribeirão Bonito - SP, mas toda minha trajetória acadêmica aconteceu em Araraquara - SP, me formei no bacharelado em química tecnológica pelo Instituto Químico da UNESP em 2006, onde também realizei meu mestrado de 2008 à 2010 e o meu doutorado de 2010 à 2014. Em dezembro de 2010 tive a oportunidade de assumir o cargo de químico na UFSCar e desde o início já fui alocado na área de polímeros do DEMa.


- Qual foi sua motivação para escolher trabalhar como técnico de laboratório?
        Ao iniciar minha graduação, já tinha em mente a ideia de fazer mestrado e doutorado para seguir na carreira acadêmica como docente, talvez fazer um PhD no exterior e etc. Mas ao decorrer do curso fui conhecendo outras áreas e me interessando por elas também, como por exemplo a parte industrial. Na química, entre o segundo e o terceiro ano de graduação os alunos têm a oportunidade de escolher entre o bacharelado convencional e o tecnológico, que é mais voltado para a indústria e tem algumas disciplinas da engenharia química, e foi este o caminho que resolvi seguir. Durante o estágio, trabalhei mais de um ano na indústria e acabei percebendo que não era aquilo que eu queria e isso acabou me frustrando um pouco, então resolvi voltar para a academia e iniciar o meu mestrado, não perdi tempo e já nessa época comecei a prestar concursos, inclusive o da UFSCar. Depois de algum tempo fazendo concursos, comecei a ficar um pouco desanimado, mas para minha surpresa, a federal me chamou e, desde então, comecei a trabalhar no laboratório de polímeros, enquanto em paralelo, realizava o meu doutorado. Durante esse período, pude ver na prática como era puxada a rotina dos professores e acabei decidindo que o que eu realmente gostava era de trabalhar no laboratório, ajudando as pessoas em diferentes pesquisas, tendo uma rotina dinâmica e de constante aprendizagem. Portanto, decidi que não mais prestaria concurso para docente, mas sim continuaria trabalhando como técnico na UFSCar.

- Gostaríamos de saber como é sua área de atuação e o que você faz na prática.
        Nós temos os laboratórios de ensino, onde são ministradas as disciplinas de EPP, Materiais Poliméricos e outras disciplinas. Eu, enquanto técnico, realizo a montagem das práticas e acompanho as turmas, auxiliando na execução correta dos experimentos e dando algumas dicas, assegurando que tudo ocorra bem. No laboratório de ensaios mecânicos, onde sou responsável, ministro treinamentos para o uso correto do instrumento e também para realizar o ensaio de impacto. Ajudo também em laboratórios onde não sou responsável, como o de análise térmica, GPC e o de infravermelho.

- Das práticas que você auxilia, tem alguma de que goste mais?
        Com certeza tem! Em Materiais Poliméricos, temos uma prática de cristalização do polietilenoglicol, que é basicamente o aquecimento polímero sobre uma lâmina de vidro, até sua fusão e em seguida adicionamos uma segunda lâmina em cima e retiramos o aquecimento, de forma que conseguimos ver a cristalização ocorrendo a olho nu. Posteriormente, no microscópio também conseguimos ver os esferulitos crescendo, é fantástico! As outras práticas são mais de execução mesmo, como por exemplo: ensaio de tração e outros ensaios mecânicos, etc. então acaba não sendo tão emocionante quanto a prática que mencionei, mas, no geral, todos os experimentos são bastante interessantes e ajudam os alunos a assimilarem mais os conteúdos.


- Qual você acha que é o assunto que os alunos de iniciação científica da área de polímeros mais têm se interessado? Você auxilia também nessa parte das ICs ou somente nas práticas durante as aulas?
        Nós estamos sempre disponíveis para auxiliar os alunos em qualquer coisa que eles precisem. Como mencionei acima, o meu trabalho é bastante dinâmico, não fico com um professor em específico, frequento todos os laboratórios e estou solicito a ajudar qualquer professor no que eu puder. Em relação aos alunos de IC, cada vez mais percebo que eles vêm se interessando pela parte de polímeros naturais e biodegradáveis e nanomateriais, porque são assuntos que estão em bastante evidência na atual sociedade, então o próprio mercado de trabalho acaba influenciando nessa tendência.

- Quais são as maiores dificuldades que você vê estando dentro dos laboratórios do departamento?
        É difícil pontuar uma dificuldade porque a convivência com os colegas e alunos é sempre bastante tranquila, todos são sempre muito receptivos. Mas acredito que futuramente teremos nosso trabalho um pouco dificultado; as contratações estão diminuindo gradativamente e em contrapartida muitos outros técnicos irão se aposentar em breve, o que fará com que a mão de obra especializada se torne escassa.

- Por sua experiência, estando em contato diretamente com os alunos dentro dos laboratórios, qual você acha que é a maior dificuldade entre os estudantes?
        O que eu vejo é um problema frequente de todas as turmas, os alunos não vêm tão preparados quanto se gostaria, em relação ao comportamento e as técnicas laboratoriais, então nós, técnicos, temos que ficar bastante atentos, principalmente nas primeiras aulas.

- Com relação aos cortes de verba, isso está influenciando no seu trabalho ou por enquanto ainda não é possível ver uma diferença?
        Não está influenciando diretamente ainda, porque, devido à pandemia, os laboratórios estão bem parados e, consequentemente, foi reduzida a demanda de insumos para aulas práticas e pesquisas, mas no futuro, acredito que os cortes de verba afetarão, e muito. Se não houver mudanças na recomposição do orçamento, vamos ter prejuízos no andamento das atividades.

- Como está sendo o trabalho dos técnicos durante a pandemia?
        Na área de polímeros nós temos trabalhado em home-office, entretanto montamos um cronograma com agendamento semanal para utilização dos laboratórios. Quando algum aluno precisa de treinamento, então sempre que for necessário marcamos um horário para utilizar o laboratório, dessa forma, asseguramos o menor número possível de pessoas dentro das dependências do prédio e mantemos a segurança, fazendo bom uso dos protocolos (EPIs e itens de higiene). Dessa forma, é possível que os alunos, principalmente de mestrado e doutorado, não fiquem tão atrasados com a entrega de seus artigos e apresentação de resultados.

- O que você espera para o futuro, quando as coisas voltarem ao normal?
        Para nós, que temos uma rotina agitada, é difícil ficar em casa, sem a interação presencial com as pessoas, sentimos muita falta disso, desde um aluno pedindo ajuda/treinamento, até uma conversa informal sobre futebol, vida pessoal, desabafos e conselhos. Então no meu caso, o que eu espero, é voltar o quanto antes a ter esse convívio do dia a dia e ter contato com os alunos nas aulas práticas, interagindo e trocando experiências.

- Você tem alguma mensagem final que gostaria de deixar pros nossos leitores?
        Primeiramente gostaria de agradecer o convite do Jornal A Matéria, a conversa foi muito descontraída e agradável. Como mensagem, o que eu gostaria de falar aos alunos e leitores é que aproveitem a vida universitária, aproveitem tudo! Façam parte de projetos de extensão, procurem por iniciação científica, conheçam um pouco de todas as ênfases do curso, porque com certeza isso vai abrir o leque de experiência de vocês. Estou à disposição para quaisquer dúvidas que talvez não foram totalmente esclarecidas nessa entrevista e também para auxiliar em alguma coisa da área de polímeros, enfim, é só me procurar que eu terei enorme prazer em ajudá-los!