[20ª EDIÇÃO] Curiosidades: LOST

Texto por: Mayumi Nakahashi e Victor Peixoto

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        Qual a sensação de sobreviver à queda de um avião, mas também descobrir que se encontra perdido em uma ilha com estranhos? É exatamente isso que a série estadunidense “Lost” nos apresenta. Bombardeada pela crítica desde sua estreia pelo canal ABC, em 2004, versa desde os gêneros de ficção científica, fantasia, ação e até romance. Conforme a série avança em seus episódios percebemos que, além dos personagens, o que cria sua atmosfera misteriosa é justamente a ilha, local onde inúmeros fatos inimagináveis acontecem.
        Nesse cenário, a extensão de terra cercada por água apresenta propriedades eletromagnéticas anormais, que acarretam tanto em consequências mais simples, como o mal funcionamento de bússolas, como também em consequências mais complexas, evidenciadas pela queda do avião na ilha no meio do Pacífico e pela cura espontânea de uma fratura na coluna de um dos personagens que o permite andar novamente. Sabemos que o eletromagnetismo não seria capaz de curar uma fratura na coluna como acontece na série, mas a queda do avião não é uma consequência impossível, embora bem improvável.
        No momento da queda do avião, estima-se que a aeronave estava a 40000 pés de altitude, o que corresponde a aproximadamente 12 km de altura. Além disso, aviões são feitos majoritariamente de metais paramagnéticos e calcula-se que apenas 10% de um Boeing 777, que é o avião em questão, é ferromagnético. Nessas condições, para causar a queda seria necessário um campo magnético da ordem de 10³ Tesla, o que corresponde a cerca de um milhão de vezes o campo magnético da Terra, eventualmente fazendo com que a aeronave se partisse ao meio durante a tragédia, como acontece na série.
        Curiosamente, existe na Terra uma irregularidade magnética chamada de Anomalia do Atlântico Sul, conhecida como AMAS, e a ilha na qual acontece a série Lost, caso realmente existisse, se encontraria dentro dessa região, o que pode ter sido uma das inspirações para a construção do enredo da história. O campo magnético terrestre, gerado no núcleo do planeta, tem origem no movimento de elétrons livres que geram correntes elétricas e é esse eletromagnetismo que nos protege da radiação oriunda das explosões solares. Nesse sentido, a Anomalia do Atlântico Sul ocorre devido a um deslocamento do centro magnético da Terra em relação ao seu eixo geográfico, logo, a AMAS, diferentemente do que os acontecimentos de Lost sugerem, tem o efeito de enfraquecer o campo magnético do planeta em uma região específica, tornando ainda mais hipotética a queda do avião.
        Quando pensamos na construção de uma aeronave, os metais são utilizados em larga escala, especialmente as ligas de alumínio e de magnésio, os aços inoxidáveis e o titânio, justamente materiais paramagnéticos, ou seja, que possuem elétrons desemparelhados e se colocados em um campo magnético externo são fracamente atraídos na mesma direção do campo. Nesse sentido, as aeronaves pouco interagem com o campo magnético, todavia, não podemos dizer o mesmo dos satélites, responsáveis por múltiplas atividades, dentre elas a comunicação e a navegação, esta última extremamente útil quando se trata de um GPS aviônico. Felizmente, cada vez mais estudiosos vêm estudando maneiras de diminuir a influência da anomalia sobre os satélites, que em função do enfraquecimento do campo magnético na região estão mais suscetíveis ao ataque de partículas energéticas solares.
        Portanto, a queda do avião no episódio piloto de Lost realmente nos remete à ficção científica, já que as características das aeronaves que interagem com o eletromagnetismo na série e suas consequências são bem distintas da realidade. Sob essa ótica, imaginar essa ficção como algo totalmente distópico não nos desagrada, uma vez que sobreviver em uma ilha com essas anomalias magnéticas ao redor nos causa tanta aversão quanto a grande parte dos telespectadores da série sentiram com o seu desfecho.

[Texto retirado da 20ª Edição do Jornal A Matéria, disponível em: bit.ly/EdicoesAMateria]