[18ª Edição] Histórias do DEMa: Bráulio Salumão

Histórias do DEMa: Bráulio Salumão


Escrito por: Augusto da Veiga

Como é a sua história com a federal?
Nasci e fui criado em Minas Gerais e o vestibular da UFSCar só era aplicado em algumas cidades do Estado de São Paulo. No ano anterior ao que passei, eu havia prestado Engenharia de Computação e escolhi fazer a prova em São Carlos. Tive a oportunidade de conhecer um pouco da cidade, mas ainda não pensava em prestar Engenharia de Materiais. No ano seguinte, conheci o curso e resolvi mudar de opção. Fiz as provas no AT-5, ao lado do DEMa. Após um dia de provas, vi um pouco do Departamento e fiquei empolgado. Passei em outros cursos e universidades, mas felizmente optei pela Engenharia de Materiais e pela Federal.
Gostava de prestar atenção nas aulas para tentar minimizar o tempo de estudo fora delas. Depois de algumas reprovações no primeiro e segundo anos, percebi que só isso não bastava e modifiquei meus modos de estudo e isso melhorou as coisas. Sempre gostei de ficar no campus, mesmo nos períodos sem aulas, e isso naturalmente me levou a ter contato com as atividades extracurriculares, que complementaram muito minha formação (e, talvez, seja onde eu tenha conseguido contribuir um pouco mais). Nesse quesito, destaco a participação na Materiais Júnior, que me levou a um maior contato com os alunos de outros anos e cursos, pessoas de fora da Federal e com a coordenação de curso e chefia do DEMa. Foi uma experiência de 4 anos fantástica e muito desafiadora, e tenho muito orgulho do que a “Júnior” se tornou hoje com tantos membros que continuaram com o trabalho! Também destaco a realização do X CECEMM, no qual tivemos a oportunidade de ter contato até com a administração superior da UFSCar e de São Carlos. Isso trouxe a mim e aos colegas que fizeram parte um aprendizado fantástico de como funcionam essas instâncias, dos desafios que fazem parte e, claro, muito sobre iniciativa, relacionamentos, trabalho em equipe e tolerância aos erros nossos e dos colegas. Além, claro, de conhecer pessoas do país inteiro, com as quais mantenho contato até hoje!
Depois que me formei, em 2010, senti muita falta desse ambiente e das pessoas. A primeira viagem que fiz, depois de ter conseguido comprar um carro, foi para participar de um churrasco de confraternização no corredor. Ali, eu ainda não pensava em voltar para a pós-graduação, mas certamente foi um marco na mudança de carreira. Em 2014, voltei para cursar o mestrado e já na sequência o doutorado, e continuei a me envolver em atividades extracurriculares como a representação discente na coordenação do PPGCEM, eventos do NIT/Materiais, DEMaEx, DEMa 45 anos, XVII e XX CECEMM, entre outros. Valorizo muito o pioneirismo do DEMa e da UFSCar, e tudo o que foi conquistado nesses 50 anos. Acredito que manter essa excelência pela qual somos reconhecidos é desafiado, pois exige renovação, disposição e cooperação em um mundo cada vez mais competitivo. Mas, se existe um lugar que reúne pessoas capazes de combinar tradição e inovação em Engenharia de Materiais, este lugar é o DEMa/UFSCar, e me orgulho de fazer parte desta comunidade.

Como foi mudar de trabalho de forma tão drástica e quais foram suas maiores motivações e desafios?
Quando estava para me formar, eu não me imaginava fazendo mestrado e doutorado. Minha maior intenção era buscar a independência financeira e, por alguns momentos, parecia que tinha chegado àquele momento tão sonhado, em que você tem um bom emprego e tudo está dando certo. Mas, como em tudo na vida, ganhamos experiência, repensamos algumas coisas e questionamos se é isso mesmo que gostaríamos de fazer ou continuar fazendo. Me marcou um momento em que estava me preparando para ministrar um curso de solda a arco submerso para uma turma de funcionários que ali estava por um momento de baixa produção. Em sua maioria, os alunos eram soldadores experientes que tinham muito mais conhecimento que eu, que soldei (muito mal!) uma vez em uma aula na graduação. Isso me fez repensar minha carreira e minha função como profissional de engenharia. Nessa época, eu já me incomodava com alguns “por quês?” de estar seguindo aquele caminho profissional que, embora fosse promissor, não trazia o mesmo entusiasmo de quando me formei.
Naturalmente, várias outras perguntas passam pela mente, como a questão financeira e “o que vão pensar minha família e meus amigos?”. Acredito que o que me ajudou foi, pouco a pouco, ter conseguido transformar esses “por quês?” em “por quem?”. As reflexões para essas novas perguntas não foram fáceis, mas foram fundamentais para encontrar o respeito daqueles que realmente importavam. Tive também o medo do arrependimento, que felizmente não veio, e acredito que o mais importante dessa experiência tenha sido manter o comprometimento e dedicação por onde passei, porque isso abre muito mais portas que somente confiar nos nossos dons e talentos.

Como você vê o seu futuro hoje em dia?
Acho que, neste momento de finalizar o doutorado, tenho dúvidas e questões semelhantes às de quem está terminando a graduação. Se sigo na área acadêmica, se volto para a indústria, se me aventuro pelo empreendedorismo etc. No momento que escrevo essa resposta, ainda não decidi os próximos passos. A única certeza que tenho é que pretendo continuar contribuindo com a educação, com a Engenharia de Materiais, com o DEMa e com a UFSCar, de alguma forma e onde quer que esteja.

Fazendo parte do Movimenta Materiais, como você enxerga as modernizações para o curso? Nos conte, também, sobre como foi visitar as universidades nos EUA com o programa CAPES Fulbright.
Acho que a modernização é um trabalho constante, que vai muito além do Projeto Institucional, o que torna o nome “Movimenta Materiais” muito condizente com o que é proposto. É um esforço de todos, com igual importância: dos alunos em propor o que desejam, ajudar a implementar e em fornecer o retorno sobre o que está ou não funcionando; dos docentes e técnicos em buscar parcerias para a melhoria contínua e em executar o que melhor se adapta em nossa realidade; dos ex-alunos em nos alimentar com as atuais tendências, como o que que poderia ser melhorado, além de facilitarem o caminho para que isso aconteça. Enfim, de toda a comunidade. Tenho muita esperança de que esse projeto seja um marco não apenas para mudar o plano pedagógico, matriz curricular ou disciplinas e trilhas, mas para realmente transformar a experiência de ensino e aprendizagem para todos os envolvidos na formação de engenheiros/as.
Quanto à visita, os sistemas de educação são muito diferentes, mas a oportunidade de ter visitado uma instituição renomada nos EUA foi fundamental em dois sentidos. O primeiro foi confirmar o que já havia experimentado na vida industrial e acadêmica, de que nossa formação em Engenharia de Materiais na UFSCar é bastante sólida na parte técnica. Não me senti, em nenhum momento na carreira, com menos recursos técnicos que qualquer colega formado em outras faculdades no mundo. O segundo ponto é que temos muitas oportunidades de melhorar a maneira como fazemos isso, além de implementar outros aspectos também relacionados à carreira de engenharia. Algumas questões são mais simples, envolvem iniciativas, treinamentos e ferramentas que podemos aprender e implementar, e já as vemos em alguns casos recentes. Outras serão mais complexas, como questões de infraestrutura, investimentos, regimentos, legislação etc. De qualquer maneira, acredito que não há nada que não sejamos capazes de alcançar com o esforço que tem sido e será feito.

Entrevista completa disponível na 18ªEdição. Clique aqui para as edições online.