[17ª Edição] Entrevista com Diego Davi Coimbrão Técnico do Laboratório de Caracterização Estrutural (LCE)

Entrevista com Diego Davi


Escrito por: Gabriela Mayer


Nesta entrevista, concedida ao Jornal A Matéria em fevereiro de 2020, Diego Davi Coimbrão, técnico do LCE (Laboratório de Caracterização estrutural), fala um pouco sobre sua trajetória no departamento, seu trabalho como técnico e os maiores desafios existentes no laboratório, devido a recorrente falta de recursos.

Conte um pouco sobre como ingressou no DEMa e sua trajetória no departamento.
Eu cheguei aqui muito jovem. Me formei em Mecânica Geral no SENAI em 1995 e, em 1996, surgiu uma oportunidade de estágio no DEMa no laboratório de soldagem com o Professor Nelson Guedes. Na ocasião, o professor estava no exterior, então meu primeiro contato foi com o Professor Claudio Kiminami, que cuidava do laboratório. Eu fui estagiário como bolsista pelo CNPq em 1996 e 1997, até 1998, quando minha bolsa terminou e fui contratado pela FAI (Fundação de Apoio Institucional), com um projeto do Professor Nelson Guedes. Terminando este projeto, surgiu a oportunidade de prestar um concurso na área de Difração de Raios-X (DRX), que até então não era minha área de conhecimento, mas fui incentivado a estudar e pedi algumas aulas sobre o assunto para o pessoal da pós-graduação. Em 1998, prestei e entrei na vaga do LCE, passando a cuidar da parte de DRX; na época tínhamos dois difratômetros. Em 2008, o prédio do LCE atual foi terminado e foi adquirido o microscópio eletrônico de transmissão (MET). Nessa ocasião, um colega de trabalho muito importante teve que se afastar por questões de saúde, e assim, por incentivo do Professor Botta, acabei me aproximando da área da microscopia, um momento bem interessante e durante o qual aprendi muito. Nesse momento de transição, eu entrei como funcionário de nível médio no departamento. Em 2007, o Professor Botta me incentivou a fazer um curso superior, e me formei em Sistemas de Informação pela UNICEP. Em seguida, comecei a cursar a disciplina de Ciência dos Materiais na pós, como aluno especial. Então, prestei o ingresso na pós, me formando Mestre em Engenharia de Materiais no DEMa em 2019.

Como foi sua experiência no mestrado?
Foi realmente um grande desafio, pois eu não tenho graduação na área. Mas eu recebi uma ajuda muito grande dos professores Botta e Zepon, que me pegaram pela mão e foram me ajudando, principalmente na parte teórica, até eu conseguir atingir meu objetivo. Foi muito interessante, aprendi demais. Meu mestrado foi ligado a minha área de atuação profissional, aplicando técnicas de microscopias eletrônicas de varredura (MEV), MET, e DRX para caracterizar uma fita metálica de uma liga de ferro contendo boro.

Quais são as funções que você exerce no LCE hoje?
Hoje continuo como técnico de nível médio, apesar de ser mestre, mas tenho um reconhecimento com essa qualificação. Atualmente, minhas atribuições no laboratório são muito grandes, cuidando tecnicamente dos microscópios, entendendo quais são os problemas e fazendo contato com o pessoal da área técnica. Além disso, cuido do oferecimento de treinamentos tanto para alunos de graduação, que fazem iniciação científica (IC), quanto para a pós-graduação, de MEV e de MET. Também auxilio ao máximo na obtenção de recursos financeiros para manter o laboratório.
Nosso grande desafio é que são equipamentos caros, com alto custo de manutenção, sendo necessária uma rotina de geração de recursos ou conseguir aprovações de projetos. Então tento ser o mais proativo possível para garantir que essa engrenagem funcione. Tentamos reparar os equipamentos no menor tempo possível, pois muitas pessoas dependem do LCE para desenvolver suas pesquisas. Assim, as pessoas criam mais confiança para colocar recursos aqui dentro, vendo que tudo está funcionando. Muitos investem dinheiro de maneira antecipada, para usar os recursos depois, confiando não só nos equipamentos, mas também na equipe.

Desde quando entrou no DEMa até hoje, quais as principais mudanças que você nota?
Em termos estruturais, a principal mudança foi a quantidade de investimento. Ao longo dos anos que estou no LCE, tivemos um aporte financeiro considerável. Por exemplo, na vinda do LCE para o prédio atual, foi comprado o nosso primeiro Microscópio de Transmissão (MET) de alta resolução FEG (Field Emission Gun). Quando nos mudamos, o parque de equipamentos aumentou consideravelmente. Logo em seguida, foi aprovado um projeto da FAPESP, com o qual foram comprados mais dois microscópios eletrônicos de varredura. Pouco depois, o LCE passou a fazer parte de um programa do governo federal, o SisNano, e durante um período conseguimos recursos para manutenção de equipamentos e bolsas para algumas pessoas trabalharem no LCE. Ademais, conseguimos comprar, com parte desse recurso, um novo MET, com um sistema de mapeamento automático de orientação cristalográfica. Fico muito contente que houveram tantos investimentos em nossa área, pois atinge não só nossa pós-graduação, mas também a graduação. Não é em qualquer departamento ou curso que alunos de graduação têm a oportunidade e incentivo de ter contato com tais técnicas. Eu sempre comento que o princípio fundamental no laboratório é a valorização do ensino, pois estamos em uma universidade.
Infelizmente, desde o ano passado, o projeto SisNano acabou. Um novo edital foi aberto, mas não fomos aprovados. Então hoje vivemos dos recursos gerados pelo próprio LCE, e acredito que daqui pra frente o desafio será cada vez maior.

Quais as maiores dificuldades que enfrentou ou ainda enfrenta?
A grande dificuldade é manter toda a nossa estrutura com poucos recursos, colocando os profissionais que trabalham no laboratório contra a parede, pois se faltam recursos, às vezes é necessário desligar o equipamento. Toda a parte de reposição de equipamentos é baseada em Euros, sendo muito difícil custear com nossos recursos, pois grande parte deles é destinada ao pagamento de nossa equipe, o que é nossa segunda maior dificuldade. O governo extinguiu uma série de cargos, inclusive o meu. Se eu me aposentar, o LCE fica sem a reposição do meu cargo. Apesar de termos uma equipe pequena, apenas três são funcionários da UFSCar. Quando sairmos, tudo será custeado pelo laboratório, e hoje já estamos no limite. O futuro é bastante incerto.

O que no seu trabalho te deixa mais realizado?
Eu não vejo como trabalho, para mim é uma diversão. Obviamente tenho vários compromissos, mas os desafios que encontro todos os dias são vistos como diversão, nunca é monótono. O mais gratificante é que por aqui passam pessoas todos os dias que estão levando conhecimento, que usam o microscópio e veem algo que estão esperando ou algo que não estavam esperando, e que também é muito importante. É muito motivador, saber que as pessoas que passam por aqui estão crescendo profissionalmente, em contato com nossos equipamentos de alta tecnologia, e que estamos garantindo que elas tenham acesso a isso, formando pessoas e gerando conhecimento. Além disso, todos os dias são diferentes, porque a operação do microscópio segue um padrão, mas a amostra muda, e mesmo sendo um mesmo tipo de amostra, o que vi ontem não é o que vejo hoje, e assim por diante.

Você teria alguma mensagem para deixar aos leitores?
Principalmente, para os alunos que estão chegando na universidade agora, que não tenham medo de procurar uma iniciação científica e tentar se aproximar o mais rápido possível da pesquisa. Tentem contato com professores, para estarem próximos destas tecnologias, saindo da universidade como um engenheiro que sabe interpretar um DRX, MEV e sabendo o que é possível ser feito com um EDS (Energy Dispersive X-Ray Spectroscopy). É muito importante, mesmo que o aluno tenha interesse em atuar na indústria e não na área acadêmica, pois agrega ao currículo e são ferramentas muito úteis que podem fazer a diferença para o profissional na indústria.

[Texto retirado de nossa 17ª Edição, disponível em: bit.ly/EdicoesAMateria]